Os pesquisadores de macroeconomia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisaram as projeções para o crescimento econômico deste ano para uma retração de 0,4% a 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB), ante uma alta de 2,1% prevista anteriormente. As novas estimativas, revisadas em função da pandemia do novo coronavírus, estão numa seção da Carta de Conjuntura do Ipea, publicada nesta segunda-feira, 30, no site da instituição.
Para os pesquisadores, o nível de incertezas e interrupções da atividade econômica provocado pela pandemia da covid-19 “está trazendo incertezas e interrupções da atividade econômica global em níveis superiores aos registrados na crise financeira internacional de 2007-2009”.
“Essa crise é mais difícil porque já tínhamos visto uma crise financeira, mas não uma pandemia como essa”, afirmou o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de C. Souza Júnior, que assina a seção da Carta de Conjuntura ao lado de Paulo Mansur Levy, Francisco Eduardo de L. A. Santos e Leonardo Mello de Carvalho
As novas projeções do Ipea foram estimadas em três cenários, variando em função do período de adoção de medidas de restrição de aglomerações e de incentivo ao “isolamento social” para combater a pandemia. No cenário com isolamento social de um mês, até o fim de abril, a retração da economia será de 0,4% este ano. Com isolamento de dois meses, o PIB encolherá 0,9%. Se o isolamento durar três meses, o tombo na atividade em 2020 será de 1,8%.
Nos três cenários, os pesquisadores do Ipea consideram que, no terceiro trimestre, haverá uma “rápida recuperação parcial da atividade econômica”.
“Esta hipótese depende da efetividade das políticas econômicas mitigadoras sendo adotadas no Brasil e no mundo, e de um relativamente rápido avanço no controle da pandemia, que permitiria a retirada gradual das medidas restritivas”, diz um trecho da seção da Carta de Conjuntura.
Segundo os pesquisadores do Ipea, o tamanho da retração cresce de forma diretamente proporcional à duração do período de isolamento social “porque, mesmo com medidas mitigadoras bem sucedidas, os riscos de falências e de demissões aumentam quanto maior for o tempo em que as empresas ficam com perda muito grande (ou total) de faturamento”.
“Se tiver uma demora maior (para começar a recuperação), vamos para um grau de incerteza maior ainda, fica difícil até de calcular, porque aí, realmente, pode haver mais dificuldades por conta de falências de empresas e demissões”, afirmou Souza Jr.
Para rodar seus modelos de projeção, a equipe do Ipea considera impactos vindos de fora, visto que, hoje, a crise é global, e impactos domésticos. No primeiro caso, foi considerado que uma retração de 1,0% no PIB global tiraria 1,3 ponto porcentual do crescimento do PIB brasileiro em 2020.
Para os impactos domésticos, nos quais foram considerados os três cenários diferentes em função do período de isolamento, os pesquisadores optaram “por uma abordagem empírica em que definimos a intensidade dos choques por meio de um levantamento de informações de alta frequência e de dados divulgados por empresas e por representantes dos setores mais afetados pela crise”.
Serviços
A seção da Carta de Conjuntura lembra que o setor de serviços deverá ser o mais atingido em termos de atividade no ano, já que, por sua natureza, o consumo suspenso nos períodos de restrição tem menos chance de ser compensado com maior intensidade no futuro, após as restrições serem relaxadas. “Alguns setores industriais também devem sofrer fortes perdas, como de bens de consumo duráveis, têxteis, confecções e calçados, devido ao fechamento do comércio nas principais cidades do país”, diz um trecho da Carta de Conjuntura.
O efeito no mercado de trabalho também tende a ser grande, pois “alguns dos setores mais afetados são os maiores empregadores do país.
“Só o setor de comércio varejista ocupava 6,4 milhões de pessoas em 2018. Serviços de alimentação e transporte, juntos, respondem por quase 10% do total de ocupados no país, o que mostra que o impacto doméstico será significativo. A questão preponderante, que será colocada na discussão de cenários, é qual é a duração dos choques e se terá efeitos mais persistentes”, escreveram os pesquisadores do Ipea.
Por Vinicius Neder
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