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‘Se contenção der errado, Bolsonaro culpa os outros’

O cientista político Miguel Lago , mestre em Administração Pública e diretor executivo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), já classificou o presidente Jair Bolsonaro como um “fenômeno tecnopolítico” que, segundo ele, atuaria numa lógica de internet, inflando os apoiadores nas redes sociais. Em casos como a crise do coronavírus, diz, o perfil de fidelizador dos seguidores mais fanáticos fica escancarado. Para Lago, há método no modo como o presidente ataca governadores, a imprensa e as recomendações do próprio Ministério da Saúde. “Se a ação de contenção (da pandemia) for bem-sucedida, ele consegue colher os louros. Se for malsucedida, diz que não tem nada a ver com isso, porque foi contra o isolamento social”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo.

O sr. já definiu Bolsonaro como um fenômeno ‘tecnopolítico’. Isso ficou escancarado com a crise do coronavírus?

A disputa do Bolsonaro é por narrativa. Está sempre jogando com os seguidores dele. Precisa fidelizar essa base, da qual depende todo o sucesso dele no governo. Está jogando com dois meses de antecedência. Tem método. Está jogando o jogo dele, que é muito perigoso para a saúde pública. É isso o que acontece quando a política deixa de ser ancorada na realidade e é puro discurso político.

Como analisa essa estratégia?

Ele aposta em duas vias. Em uma, se a ação de contenção for bem sucedida, consegue colher os louros. Na outra, se for mal sucedida, diz que não tem nada a ver com isso porque foi contra o isolamento social, a “histeria” que ele diz que a imprensa e os governadores estão instalando na população. Vamos supor que a política de isolamento funcione. Isso significa que o coronavírus foi contido, mas que o maior problema é a recessão econômica. Se ele dizia que as medidas de contenção seriam responsáveis pela recessão, ele tira a própria responsabilidade. Narrativamente, está tentando ganhar mesmo que o Brasil tenha uma recessão tremenda.

A crise amplia a rejeição a ele?

Minha impressão é a de que as pessoas que não gostam dele estão mais eloquentes, até porque ele tem dado muitos argumentos para isso. Mas tem um fenômeno de classe também. As primeiras vítimas são de classe mais alta, que votou majoritariamente nele. A queda de popularidade abre espaço para a oposição construir um método, como é o caso dos panelaços, mas acho que ele ainda continua muito forte.

Há espaço para impeachment?

Até vejo a instalação de um processo de impeachment, porque ele está levando a briga com as instituições até a última consequência. Mas, politicamente, uma coisa é Collor ou Dilma, que tinham índices de popularidade minúsculos. Bolsonaro tem um segmento da população fanático por ele. Essa parcela da população vai brigar. Seria um impeachment muito mais custoso do ponto de vista político.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Caio Sartori

Estadão Conteúdo

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