O efeito devastador da pandemia do novo coronavírus sobre a economia mundial já levou pelo menos 45 países a agir para tentar conter o impacto sobre emprego e renda da população. O risco é que o estado de paralisia na atividade econômica, diante da necessidade de isolamento social como prevenção ao alastramento da infecção, resulte em demissões em massa e queda drástica na renda da população que já não tem quase nada para sobreviver.
O cardápio de medidas é variado e inclui transferências diretas de renda, subsídios temporários nos salários, licenças remuneradas para quem for contaminado, entre outras iniciativas voltadas para as empresas. Muitos países atuam em mais de uma frente, com uma combinação de diferentes políticas para amortecer o impacto da crise, que pode atingir os níveis observados na crise financeira de 2008 e 2009.
Os países têm calibrado o alcance das ações de acordo com seu poder de fogo: enquanto uns enfrentam a crise com situação mais confortável em suas contas, outros foram atingidos em meio a um processo de ajuste e precisam acomodar as medidas num orçamento já deficitário, como é o caso do Brasil.
O diretor global de Macroeconomia do Banco Mundial, Marcello Estevão, coordena parte importante do monitoramento que o organismo internacional tem feito sobre as iniciativas ao redor do mundo. Segundo ele, muitos países, principalmente os emergentes, enfrentam restrições fiscais ao mesmo tempo que há uma necessidade urgente de expansão dos gastos para debelar os efeitos da crise. Muitos perderam receitas com a queda nos preços do petróleo, outros têm o gasto engessado ou estão em processo de ajuste.
No entanto, a ampliação da proteção social e a adoção de medidas para incentivar empresas a reterem os trabalhadores num momento de baixa nas receitas são consideradas importantes não só para dar um alívio financeiro às companhias e às famílias, mas também para encorajar o isolamento sem que as pessoas temam ficar desempregadas ou sem dinheiro.
Para o diretor, a natureza da crise dificulta o sucesso de medidas tradicionais de política fiscal, e uma das razões é justamente a necessidade de isolamento. A prioridade agora deve estar em pacotes abrangentes com recursos para saúde e instrumentos para amenizar impactos no emprego e na renda das famílias.
A eficiência dessas iniciativas, segundo Estevão, pressupõe três características: foco na população mais necessitada e desassistida, velocidade de alcance de medidas e controle de correta aplicação. Nesse sentido, as medidas de transferência de renda e subsídios aos salários surtem efeito mais rápido do que uma elevação do investimento público.
Para Otaviano Canuto, que já foi vice-presidente do Banco Mundial e diretor executivo do FMI, o papel da política fiscal agora é mitigar o impacto socioeconômico. “Talvez a ideia do dinheiro de ‘helicóptero’, jogando dinheiro na conta.”
Segundo ele, o Brasil tem uma ferramenta importante, o Cadastro Único, que permite o mapeamento das famílias em situação vulnerável no País. No entanto, ele defende que o governo precisa ser mais agressivo nas medidas – desde que elas sejam temporárias. “Mais do que R$ 200 (valor estipulado para a ajuda a trabalhadores informais) serão necessários. O confinamento vai demorar provavelmente até maio. Eu disse aos meus filhos: se preparem, é um estado de guerra.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes
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