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Brasileiros lutam para voltar ao País; impasse diplomático dificulta operação

O coronavírus criou um verdadeiro caos no setor aéreo global. Voos têm sido suspensos pela falta de demanda e fechamento de fronteiras em diversos países. No meio dessa encruzilhada, estão brasileiros que estavam viajando e não conseguem retornar para suas casas. No domingo, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) disponibilizou um formulário online para receber informações de brasileiros que têm passagem aérea comprada e não estejam conseguindo voltar para o País (Cadastro pelo link: http://www.anac.gov.br/brasileironoexterior). Até às 18 horas da segunda-feira, o site tinha um total de 10.929 cadastros. Os principais locais, segundo a Anac, são Portugal, Peru, África do Sul, México e República Dominicana.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, as aéreas associadas já trouxeram de volta ao País aproximadamente 16 mil pessoas desde o dia 19 de março. “Nesse momento, o nosso foco é trazer as pessoas de volta para casa”, disse, em entrevista ao Broadcast. Sanovicz, entretanto, disse que a maior dificuldade hoje está em entrar nos países diante dos bloqueios. “Nossa grande fronteira é o Peru. Está fechado”, disse.

O Peru anunciou o fechamento da fronteira no dia 15. Dois dias depois, o governo daquele país havia autorizado a repatriação de estrangeiros. O regresso dos brasileiros estava sendo administrado pela embaixada do Brasil, em Lima. Sanovicz lembrou que recentemente a Gol e Latam tinham seis voos programados para buscar brasileiros no país, mas dois deles foram suspensos de última hora, na sexta-feira, pelo governo peruano. A aeronave deveria ter saído de Cusco. A briga, agora, é diplomática.

Preso

O jornalista de São Paulo, Diego Junqueira da Silva, de 35 anos, é um dos que lutam para voltar ao Brasil. Silva e sua namorada viajaram para o Peru no dia 13. O primeiro destino foi Lima e depois Cusco, onde eles estão atualmente. “Nós voltaríamos no dia 23. Acontece que, depois do anúncio do fechamento da fronteira, a gente foi para o aeroporto para tentar voltar”, disse, em entrevista ao Broadcast.

Silva criticou a postura adotada pelo governo do Peru, de fechar a fronteira e dar apenas 24 horas para que os turistas se retirassem do país. “O corpo diplomático (brasileiro) aqui em Lima está trabalhando ativamente junto ao governo peruano. A gente percebe que eles estão trabalhando. As companhias aéreas brasileiras, Latam e Gol, mandaram aeronaves. A Avianca tem prestado assistência zero”, criticou.

No sábado passado, Silva recebeu a informação de que uma segunda aeronave da Latam iria para Cusco resgatar brasileiros. “Fomos para o aeroporto. Mas o transporte público está limitado. Conseguimos chegar ao aeroporto por meio de veículos do exército. Ficamos lá, do lado de fora, com cerca de 300 brasileiros”, disse. No dia, entretanto, o governo peruano não autorizou o voo. Silva contou que no local em que está hospedado há uma turista do Canadá, cujo país havia conseguido autorização para dois voos dos quatro solicitados.

Encurraladas

O diretor general da Avianca para Brasil, Equador e Peru, Nissim Jabiles, contou em entrevista ao Broadcast a dificuldade para conseguir transportar os passageiros. “No Peru, praticamente de um dia para o outro o governo decidiu fechar sua fronteira”, disse.

Todas as companhias aéreas agora precisam disputar um espaço entre os seis voos diários permitidos no aeroporto de Lima. “Antes, esse aeroporto podia atender até 400 voos por dia. Tenho pedidos não só da embaixada do Brasil, mas de todos os países”, afirmou. A empresa disse trabalhar para ter um voo de volta para o Brasil nessa semana.

O executivo defendeu ainda a atuação da companhia, que estaria trabalhando intensamente para conseguir a liberação o mais rápido possível. “Não temos certeza de quando essa permissão vai sair”, disse, e emendou: “tem de ter paciência. Não temos autoridade para operar um voo sem liberação”. O prazo do governo é de que o fechamento da fronteira deve durar até o fim deste mês.

Suporte

O executivo da Avianca defendeu ainda que os governos precisam adotar o mais rápido possível medidas para ajudar as aéreas. O próprio retorno de operação no Peru não seria suficiente para ajudar os negócios. “Tem muita incerteza porque o negócio de aviação conecta países. Se amanhã o Peru abre sua fronteira, mas Brasil fecha, eu não consigo operar. Os países estão tomando medidas diferentes e cada um no tempo diferente. Isso vai demorar.”

Procurado pela reportagem, o Itamaraty afirmou que a embaixada do Brasil em Lima continua trabalhando para assegurar o retorno de todos os brasileiros atingidos pelas restrições de movimentação ao redor do mundo. “A situação excepcional torna impossível a elaboração de cronograma preciso dos voos. Recomenda-se aos brasileiros que ainda não o tenham feito, manter contato com a embaixada e acompanhar as informações divulgadas pelo site e facebook da embaixada”, afirmou, em nota.

Por Cristian Favaro

Estadão Conteúdo

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