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Pequenos comércios funcionam com as portas fechadas (ou abaixadas) em SP

Pequenos comerciantes e prestadores de serviços trabalham com as portas fechadas ou semifechadas em São Paulo. Para não quebrar, os lojistas que não têm licença para vender alimentos ou itens essenciais apostam nas vendas por telefone ou internet. Alguns chegam a deixar a porta entreaberta, indicando que os clientes podem bater e comprar um ou outro artigo de maneira rápida, sem entrar na loja.

“Provavelmente amanhã eu fecho as portas, em razão da quarentena. Até agora estava aberta, porque tenho serviço de lavanderia”, diz Lucia Souza, prestadora de serviços de lavanderia, costura e tingimento. Ela conta que até mesmo as encomendas que já haviam sido feitas antes da crise causada pela pandemia do novo coronavírus ficaram prejudicadas. “Esses dias fiz a entrega de um terno. O rapaz recebeu, mas disse: Vou pegar, mas nem vou usar a roupa. A formatura foi cancelada'”, conta.

Também na zona leste da cidade, o dono de um comércio de materiais descartáveis que vende no varejo e no atacado conta que já colocou, desde quinta-feira da semana passada, metade dos funcionários em férias. “Estamos recebendo as encomendas por telefone e disponibilizamos um local para retirada. Fornecemos embalagens para delivery e esse serviço continua operando”, diz. Além disso, em uma porta menor, ao lado da entrada principal da loja, algumas pessoas faziam uma pequena fila para compras de urgência. “As pessoas estão precisando de descartáveis: copos, talheres”, diz o dono do estabelecimento.

Ele fala que o time administrativo da pequena empresa já negocia a prorrogação de prazos de pagamento com fornecedores e, na outra ponta, com os clientes. “Além disso, estamos atrás de crédito”, diz. Lucia Souza, da lavanderia, também afirma que vai procurar fazer acordos com a imobiliária onde aluga seu ponto comercial e com a própria funcionária.

De lojas de artigos para decoração até perfumarias, o que se vê nas ruas é o mesmo. Avisos com o telefone para fazer as encomendas, intensificação na comunicação com os clientes nas redes sociais e o medo de não conseguir pagar as contas do mês. De acordo com o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alfredo Cotait Neto, a criatividade dos lojistas neste momento é a saída para os pequenos empreendedores. “As medidas de combate à disseminação do novo coronavírus são drásticas exatamente para os pequenos comerciantes. O que está valendo é a criatividade. Internamente, a empresa tem que continuar funcionando de alguma maneira”, diz. Até o atendimento “a meia porta” é justificável para o presidente da Associação: “o que foi determinado, corretamente, é a interrupção de atendimento ao cliente e a proibição de aglomerações. Agora, atender uma pessoa ou alguma negociação que estava em curso, isso é possível”, argumenta. Ele diz que a orientação da ACSP é de que haja menos funcionários nas lojas e que se faça uma jornada reduzida, respeitando as normas de higiene e segurança dos trabalhadores.

Alfredo destaca, porém, que os comércios de pequeno porte não têm estrutura própria para garantir as vendas online. “Os pequenos comerciantes que não estejam vinculados a alguma plataforma, não têm estrutura para continuar suas vendas como outras empresas”, afirma. Ele diz ainda que caso a situação do fechamento continue, os comércios menores não têm como sobreviver. “Em uma análise empírica, se o fechamento durar até 31 de março, as empresas poderiam aguentar de alguma maneira. Se durar até 30 de abril, elas fecham”, diz Cotait Neto. Ele defende que muitas pequenas empresas não conseguem aderir a soluções de vendas criativas e não presenciais e que esses setor precisa de ajuda do governo no pagamento de salários, impostos, dívidas e compromissos com terceiros, nesta ordem.

Por Talita Nascimento

Estadão Conteúdo

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