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Campinas antecipa quarentena; vírus paralisa cidades do interior paulista

O interior de São Paulo, que responde por 15% da riqueza nacional, começou a parar nesta segunda-feira, 23, em razão do coronavírus. Campinas, cidade com mais de 1 milhão de habitantes, amanheceu com praças, ruas e terminais de ônibus praticamente vazios. Um decreto assinado pelo prefeito Jonas Donizette (PSB) antecipou a quarentena, fechando o comércio em geral e reduzindo a circulação do transporte público. Medidas semelhantes foram tomadas nas principais cidades do interior, mas em muitas a quarentena começa nesta terça-feira, 24, apenas.

A região central de Campinas começou o dia praticamente vazia e o transporte coletivo funcionava com frota mínima. Muitos moradores desistiram de esperar pelos ônibus nos terminais. Com nove casos confirmados e 223 suspeitos na cidade, o prefeito justificou a antecipação da quarentena, que no Estado começa nesta terça. “Antecipamos porque um dia nos dá um ganho extra. Fizemos uma edição extraordinária do decreto no domingo, 22, para cumprir o prazo legal de 24 horas. Vamos ficar em quarentena até o dia 12 de abril, mas podemos antecipar ou prorrogar o prazo.”

O comércio em geral fechou, mas a área de alimentação e medicamentos, e sua cadeia produtiva, funcionavam. O decreto não envolveu indústrias e bancos. “Não é só tirar as pessoas da rua e deixar em casa. Dos nossos leitos de UTI, 30% são ocupados por acidentes de trânsito. Sem carro na rua o número de acidentes cai e liberamos leitos para os casos graves de coronavírus”, disse Donizette. Ele determinou providências para que os ônibus operassem apenas com pessoas sentadas. A Guarda Municipal patrulhava as principais vias e acessos da cidade para controlar a lotação dos coletivos.

Em Sorocaba, o Sindicato dos Rodoviários ordenou aos motoristas que recolhessem os ônibus que estavam em circulação na manhã desta segunda-feira. Os veículos cumpriam o itinerário até o ponto final e eram conduzidos à garagem. A medida atingiu outros 43 municípios da região e, segundo o sindicato, visava a garantir a segurança de motoristas e passageiros. Com duas mortes suspeitas, Sorocaba está em estado de calamidade pública. Segundo o sindicato, empresas de transporte urbano mantinham plantão para o transporte especial. Empresas de fretamento e de cargas não foram afetadas pela paralisação.

De manhã, a guarda municipal chegou a intervir, mas não conseguiu evitar que os ônibus saíssem lotados do terminal Santo Antônio, o principal da cidade. Em nota, a prefeitura informou que a medida adotada pelo sindicato foi unilateral e entraria na justiça para que parte dos ônibus circulasse, visando atender quem trabalha em serviços essenciais. O comércio geral e shoppings deveriam ficar fechados em virtude do decreto de calamidade, mas muitos estabelecimentos abriram. Só no domingo, 82 bares foram autuados por descumprir a regra.

Em Itapetininga, a rodoviária e terminais de ônibus amanheceram isolados com faixas zebradas em todo o entorno para proibir a entrada de ônibus e passageiros. As pessoas que foram até o local para tomar o ônibus tiveram de fazer meia volta. A cidade tem 37 casos suspeitos. O número de ônibus circulando também foi reduzido em Jundiaí. Fiscais da prefeitura receberam mais de 70 denúncias de descumprimento das medidas restritivas ao funcionamento do comércio. Piracicaba reduziu a frota do transporte público e suspendeu a gratuidade dos cartões de idosos fora do horário entre 10h e 15h.

Burla

A prefeitura de Bauru autuou ao menos 15 estabelecimentos que funcionavam na manhã desta segunda, burlando um decreto do prefeito Clodoaldo Gazzetta (PSDB) que fechou o comércio desde a sexta-feira, 20, à exceção de serviços essenciais. A regra limitou o funcionamento inclusive de bancos. Nesses locais, só eram atendidos presencialmente idosos, gestantes e pessoas vulneráveis. Nesta segunda, empresas e indústrias operavam com metade dos funcionários e, conforme o decreto, deverão fechar totalmente a partir de quarta-feira, dia 25.

Uma decisão da Justiça do Trabalho reduziu em 40% a circulação dos ônibus de transporte público de Ribeirão Preto. Os coletivos já circulam com frascos de álcool em gel, todos os passageiros sentados e com as janelas abertas. Em caso de descumprimento, a empresa de transporte pode ser multada em até R$ 50 mil por dia. Shoppings e centros comerciais fecharam. O prefeito Duarte Nogueira (PSDB) antecipou a primeira parcela do 13.º salário e pediu às pessoas que fiquem em casa.

Em São José dos Campos, o comércio fechou nesta segunda, mas funcionavam serviços essenciais, inclusive supermercados, e, com frota reduzida, o transporte coletivo. O uso de bilhete único por idosos foi restrito a viagens por motivo de saúde comprovado. Parques públicos, academias e centros esportivos também fecharam. Em Araraquara, com uma morte suspeita, seis postos de saúde passaram a funcionar, nesta segunda, com horário ampliado até 20 horas. Em São José do Rio Preto, até as 23 feiras-livres foram suspensas. A prefeitura de Araçatuba anunciou a suspensão, a partir desta terça, das visitas domiciliares dos agentes de combate à dengue.

Bloqueios

Cidades menores que ainda não têm casos confirmados de coronavírus estão barrando a entrada de pessoas de fora. Nesta segunda-feira, a prefeitura de Botucatu passou a controlar o acesso de pessoas à cidade, inclusive de ônibus. Policiais e agentes entravam nos coletivos equipados para medir a temperatura dos passageiros. Pessoas com temperatura acima de 37,5 graus eram acompanhadas até uma unidade de saúde. As prefeituras de Águas de Lindóia, São Pedro e de Motuca fecharam os acessos com barreiras monitoradas por agentes municipais.

Em Aparecida, cidade sede do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, o bloqueio dos acessos foi determinado pela Justiça. A medida atinge também a vizinha Potim. Com isso, subiu para 20 o número de cidades paulistas com acessos controlados devido ao vírus. No interior, já adotaram a medida Itariri, Pedro de Toledo, Itápolis, Miguelópolis, Tabatinga e Nova Europa. No litoral, os acessos estão controlados em Ilhabela, Santos, Guarujá, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Ilha Comprida e Cananeia.

Por José Maria Tomazela

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