Na contramão do alívio visto no câmbio e na bolsa, os juros futuros ficaram pressionados durante a sessão, com o mercado digerindo o comunicado “hawkish” do Comitê de Política Monetária (Copom) e embutindo nos preços a piora dos cenários fiscal e político, num contexto de provável recessão. As taxas subiram ao longo do dia, mas na reta final da etapa regular desaceleravam o avanço para níveis perto dos ajustes de ontem, com a melhora do apetite ao risco no exterior e aceleração da queda do dólar para R$ 5,10. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou a sessão regular em 3,935%, de 3,999% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2022 recuou de 5,814% para 5,77%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 8,57%, de 8,553%.
Cassio Andrade Xavier, trader de renda fixa da Sicredi Asset, relata que a curva ficou menos pressionada à tarde porque, pela manhã, houve grande fluxo tomador em ajuste ao comunicado do Copom. “À tarde, esse movimento cessou um pouco”. Já nos longos, houve contribuição da melhora do câmbio e das bolsas no exterior no fim da tarde, mas segundo Xavier, estes vértices estão com movimentos erráticos, diante da forte volatilidade. “As atuações do BC e Tesouro têm ajudado, mas este trecho está sem dono, com ‘books’ muito magros”, comentou.
O corte da Selic para 3,75% estava bem precificado na curva, mas o tom do comunicado, com os diretores indicando que neste momento veem como adequada a manutenção da Selic em seu novo patamar, limpou na curva de juros as apostas de novo corte da taxa básica em maio, que até ontem era de 30% para queda de 0,25 ponto porcentual. Nos Departamentos Econômicos, porém, o cenário é oposto. Segundo pesquisa do Projeções Broadcast, entre 28 casas, 26 acreditam que o Copom vai continuar com o desaperto monetário.
A postura mais conservadora do Banco Central é atribuída tanto ao overshooting do câmbio quanto às preocupações com o quadro fiscal, uma vez que o comunicado destaca que “alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas” podem elevar a taxa de juros estrutural, assim como questionamentos sobre as reformas.
Nesta tarde, o Ministério da Economia anunciou mais medidas para o combate aos impactos da crise causada pelo coronavírus, com foco na proteção ao emprego, mas ainda assim muitos já dão como certa a recessão em 2020. Entre os mais céticos está o ASA Bank, que voltou a reduzir sua expectativa para o PIB este ano. De crescimento nulo (0,0%), agora espera queda de 3,0%, devido a revisões de crescimento do PIB global e a medidas de distanciamento social em centros urbanos mais drásticas do que o esperado.
Por Denise Abarca
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