A possível chegada do Covid-19 nas favelas e comunidades do Rio preocupa deputados da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj), que defendem a construção imediata de abrigos e hospitais de campanha onde as pessoas isoladas possam ser acolhidas. O temor dos parlamentares é que as moradias diminutas, onde moram muitas pessoas da mesma família, não tenham espaço para garantir com segurança a quarentena dos infectados, que acabariam passando a doença para os demais parentes.
A Alerj aprovou dez projetos relacionados ao coronavírus nesta quarta-feira (18) e um deles autoriza o governo do estado a requisitar propriedades privadas, como hotéis, pousadas e até motéis, para viabilizar o cumprimento de quarentenas, isolamentos e demais tratamentos médicos. Segundo o projeto, os proprietários terão direito de receber pagamento posterior pela utilização do espaço.
O deputado Carlos Minc (PSB) disse que o governo do estado pode estar perdendo o prazo ideal para começar a prover os locais onde ficarão as pessoas isoladas em quarentena, pois existe uma logística complexa que inclui a instalação de equipamentos e contratação de pessoal.
“Este é o problema mais sério. Se 20 ou 30 pessoas na Rocinha se contaminarem, isso vai se expandir, pois as casas são grudadas uma nas outras e em cada uma moram muitas pessoas. Nós já perdemos muito tempo e o quadro de evolução [da doença] é semelhante ao da Itália. Pode vir um drama pior que o italiano. Perdemos o timing, estamos correndo atrás do prejuízo. Agora temos que acelerar o passo”, disse Minc.
A deputada Marta Rocha (PDT) também demonstrou preocupação com o quadro que está se desenhando no Rio, pelo grande número de favelas na cidade. Ela lembrou que o Rio é uma cidade com altos índices de tuberculose, principalmente nas comunidades pobres, o que já deixa as pessoas vulneráveis, com problemas respiratórios.
“Tem que aumentar a velocidade na capacidade de resposta. Para quem é da classe média, é fácil o isolamento social. Mas quando se pensa nas comunidades, em que os domicílios têm um único quarto e abrigam cinco moradores, essa questão tem que ser verificada para garantir o atendimento dessas pessoas”, disse Marta Rocha.
O deputado Waldeck Carneiro (PT) pediu pressa às autoridades de saúde para abrigar pessoas que precisarem ser isoladas em quarentena. Ele sugeriu o uso de prédios de hospitais desativados, para colocar em condição de abrigar os pacientes.
“A China ergueu um hospital em uma semana. A Itália vacilou na prevenção e está contando os mortos. É preciso criar soluções. Há prédios públicos e privados para serem usados, e também a possibilidade de construção de hospitais de campanha”, disse Waldeck.
A Secretaria de Estado de Saúde foi procurada para se manifestar sobre a posição dos deputados, mas ainda não se pronunciou. Há uma projeto, de iniciativa da prefeitura do Rio, de utilizar o centro de eventos Riocentro, em Jacarepaguá, como um dos pontos de apoio ao atendimento médico, com capacidade de 500 leitos. Até o momento, nenhuma obra começou no local.
De acordo com dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados durante o Censo de 2010, cerca de 11,4 milhões de pessoas, equivalente a 6% da população brasileira, viviam em uma das 6.329 favelas do país. No Rio de Janeiro, segundo o IBGE, a população moradora de favelas e comunidades pobres é estimada em 1,7 milhão de habitantes.
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