O hábito de lavar as mãos, arma contra o novo coronavírus, foi um dos mais revolucionários de toda a história da Medicina. Em meados do século 19, os médicos não tinham o costume de lavar as mãos, nem mesmo entre procedimentos cirúrgicos. “A ideia dominante era que a lavagem poderia tirar a proteção da pele”, explicou a pesquisadora Gisele Sanglard, da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, especialista em história da saúde.
“Vamos lembrar que estamos falando de países do Hemisfério Norte, onde os invernos são mais rigorosos, não havia calefação, e tomar banho era um sacrifício.”
O primeiro médico a perceber que a lavagem das mãos poderia ter um impacto nas taxas de letalidade foi o húngaro Ignaz Semmelweis (1818-1865), que em 1847 trabalhava no Hospital Geral de Viena. O hospital tinha duas clínicas para a realização de partos: uma usada no ensino de jovens médicos e outra para o treinamento de parteiras. A morte de mulheres pela chamada febre puerperal, pós-parto, era muito comum. Mas o médico começou a observar uma diferença de mortalidade muito grande entre as parturientes atendidas por estudantes de medicina e as que eram cuidadas por parteiras. Entre essas últimas, a taxa de letalidade era de menos de 4% contra porcentuais que chegavam a 16%.
Na mesma época, um médico amigo de Semmelweis morreu depois de ter sido ferido acidentalmente pelo bisturi de um dos estudantes durante um exame de necropsia. Ao fazer a autópsia, Semmelweis notou que ele morrera de enfermidade muito parecida à que acometia as parturientes e concluiu que médicos que faziam autópsias estariam levando “partículas cadavéricas” nas mãos. Isso explicava por que parteiras tinham porcentuais mais baixos: elas não participavam das autópsias.
Mudanças
O médico estabeleceu nova política. Os alunos deveriam lavar as mãos após a autópsia, antes de atenderem as parturientes. Em um mês, o porcentual de mortes caiu para menos de 1%. Foram necessários ainda alguns anos até que o francês Louis Pasteur confirmasse a teoria dos germes e o britânico Joseph Lister começasse a colocá-la em prática nas cirurgias. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Roberta Jansen
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