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Cariocas continuam indo à praia, mas vendedores apontam redução nas vendas

Na última semana de um verão atípico, marcado por temperaturas amenas para a época, os cariocas parecem ignorar a necessidade de evitar ambientes muito cheios. Neste domingo de sol, enquanto um quarteirão da orla de Copacabana era ocupado por manifestantes pró-Jair Bolsonaro, outros moradores e turistas curtiam a praia tranquilamente.

As areias da Princesinha do Mar estavam um pouco mais vazias que o padrão para um domingo ensolarado, mas registraram, mesmo assim, uma quantidade superlativa de banhistas. O casal Cláudia e Marco Delia, por exemplo, passou na manifestação e aproveitou o sol para relaxar na praia, cujo mar estava com água cristalina e formava piscinões em alguns pontos da areia. “Tem outros vírus piores rolando por aí”, minimizou o analista de sistemas.

No entanto, os dois destacaram que têm evitado se concentrar em ambientes aglomerados. No ato, por exemplo, ficaram na lateral, sem adentrar a muvuca. “Também não podemos subestimar os riscos”, apontou a psicóloga.

Entre os vendedores da orla, parece unânime a sensação de que as vendas estão caindo. Wilson Morais, de 30 anos, anda pelas areias com as famosas bandejas de caipirinha, que costumam ser vendidas para turistas. Ele estima que tem deixado de vender até metade do que costuma conseguir em dias de sol. “Normalmente, num domingo assim, vendo umas 60 caipirinhas. Hoje, acho que não vendo mais de 30”, disse.

Esse baque vem para piorar uma conjuntura que já não era favorável aos vendedores. Com o verão atípico, de poucas sequências de dias de sol, o comércio informal da orla tem sentido a diferença e frustrado as próprias expectativas. Além disso, avalia o vendedor de biquínis Arielson Jean, de 40 anos, a dificuldade que o País enfrenta para superar a crise econômica tem sido um empecilho para alavancar as vendas.

“Esse corona aí chegou para estragar o que já estava ruim”, lamenta. Nas barracas de aluguel de cadeiras e barracas, também há uma percepção de que o movimento estava aquém. Os trabalhadores não sabem dizer, contudo, se o problema é o coronavírus ou a manifestação.

Essa movimentação de queda no comércio informal joga luz sobre uma das grandes dúvidas em torno do que pode acontecer com o isolamento promovido pelo coronavírus, que deve causar grande impacto para quem não tem garantias trabalhistas. Todos demonstram preocupação com esse aspecto da pandemia.

Apesar da praia cheia, há quem esteja adotando precauções. O engenheiro Otto Flach, de 60 anos, foi com a família para o calçadão de Ipanema, onde sentaram em um canteiro e aproveitaram a sombra. Evitaram, porém, descer até a areia, onde mais gente se aglomerava.

Na última sexta-feira, quando anunciou medidas radicais para evitar a propagação do coronavírus no Rio, o governador Wilson Witzel chegou a dizer que poderia usar a Polícia Militar para evitar a aglomeração de pessoas.

Especialistas costumam dizer que o problema da praia em tempos de coronavírus é se ela estiver muito lotada, com grandes grupos aglomerados. Além disso, nem todo mundo consegue ir até a orla andando. Ao contrário: a maioria precisa pegar transporte público, o que é altamente contraindicado para evitar a propagação do vírus.

Uma coisa é certa: num verão como este, de pouco calor, o carioca trocou a água de coco pela água mineral, por causa da crise da Cedae, e agora caminha para trocar a cerveja e a caipirinha da praia pelo álcool gel das farmácias.

Por Caio Sartori

Estadão Conteúdo

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