BRASÍLIA – O avanço do novo coronavírus coloca em xeque a coordenação do governo no enfrentamento da doença. Enquanto o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, admite que o Brasil deve viver “20 semanas muito duras”, o presidente Jair Bolsonaro insistiu, nos últimos dias, na tese de que a doença não era “isso tudo”. Na noite da última quinta-feira, 12, porém, Bolsonaro
Até então, Mandetta afirmava que a máscara só deveria ser usada por quem apresentava sintomas do coronavírus — uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Na última terça-feira, 10, em Miami, o presidente chegou a dizer até mesmo que a doença estava superdimensionada e era muito mais “uma fantasia” divulgada pela mídia. Quarenta e oito horas depois, porém, ele foi pego de surpresa ao saber que o secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wajngarten – um de seus acompanhantes naquela viagem – contraiu o coronavírus. Diante da crise, Bolsonaro foi submetido ao exame. O resultado sairá nesta sexta-feira, 13.
Na prática, a falta de entendimento na equipe sobre o que deve ser feito para proteger a população fica cada vez mais evidente. Na noite de quarta-feira, por exemplo, enquanto Mandetta alertava para o risco de “propagação geométrica” dos casos no País, Bolsonaro ainda tratava de minimizar a situação, sob o argumento de que “outras gripes mataram mais do que essa”.
Sem alinhamento, cada integrante do governo sugere uma coisa e muitos batem cabeça. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, decidiu ir às redes sociais para afirmar que as instituições de ensino precisam se planejar para “algumas medidas emergenciais pontuais”. Conhecido por seu estilo polêmico, Weintraub cogitou até mesmo a possibilidade de antecipar as férias escolares.
“Pensem em um cenário de contingência. Esta é a melhor solução”, afirmou o ministro. Mandetta, por sua vez, disse que a decisão de deixar crianças em casa pode não ajudar em nada. Ao contrário, tem potencial para agravar a crise, caso os alunos permaneçam em seus lares com idosos, já que o coronavírus atinge os mais velhos com intensidade maior.
Enquanto a equipe patina e Estados admitem não ter estrutura nem material para lidar com o alastramento da enfermidade, o governo ainda não montou um gabinete de crise. Em agosto, Bolsonaro recorreu a um gabinete assim para tratar das queimadas da Amazônia. Agora, vai criar um comitê apenas para monitorar os impactos econômicos da doença.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse recentemente que a crise era “passageira” e minimizou seus efeitos. Ao se reunir com deputados e senadores na noite de quarta-feira, 11, no entanto, Guedes afirmou que a consequência da pandemia era algo “realmente imponderável”.
O chefe da equipe econômica foi muito criticado pela plateia de políticos após repetir que uma das medidas para sair da crise será agora a aprovação de reformas pelo Congresso. Há tempos o governo diz que enviará ao Legislativo propostas de mudanças tributárias e administrativas, mas ainda não encaminhou nada.
“A minha preocupação é como a gente faz no curto prazo, porque sabemos que alguns setores serão muito atingidos”, constatou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dirigindo-se a Guedes em tom de cobrança. “As indústrias vão dar férias coletivas? Vão demitir? O que pode acontecer no curto prazo? Queremos saber isso porque a maioria dos que estão aqui concordam, ministro, que no médio prazo vamos continuar votando a sua agenda, ou melhor, a nossa agenda”, disse Maia.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump anunciou a proibição de voos de países europeus, por 30 dias. Em quarentena, a Itália fechou todos os estabelecimentos comerciais, exceto os de alimentação e saúde. Guedes disse haver “impacto inequívoco” sobre a aviação no Brasil e afirmou que esforços têm sido feitos para amenizar os reflexos sobre serviços. “Suponha que todos vamos nos trancar em casa e parar de nos movimentar. Vai acontecer uma queda no setor de serviços. Aí nós vamos reagir a isso como?”, perguntou Guedes aos parlamentares.
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