A melhora do humor nos mercados internacionais prevaleceu sobre as preocupações fiscais e a alta do dólar para levar os juros futuros a fecharem em baixa, mais expressiva nos vértices intermediários, cujo alívio foi em torno de 100 pontos-base no fechamento da regular. O movimento é visto pelos profissionais da renda fixa como uma correção de parte dos prêmios acumulados nos últimos dias de grande tensão, mas que está longe de representar uma tendência. De todo modo, o alívio permitiu resgate das apostas de queda de 0,25 ponto porcentual da Selic no Copom da semana que vem.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,26%, de 4,954% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2022 caiu de 6,205% para 5,31%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 7,85%, de 8,883%. A despeito do recuo de hoje, as taxas fecharam a semana com forte acúmulo de prêmios ante a sexta-feira anterior. Na ponta curta, de cerca de 40 pontos-base e nos trechos médio e longo entre 80 e 130 pontos.
A manhã foi tumultuada no mercado de juros, com as taxas batendo nos limites de baixa por duas vezes, refletindo a perspectiva de ampliação das medidas por parte das autoridades para estancar a epidemia do coronavírus. Com isso, a B3 teve de fazer ajustes nestas marcas. As taxas continuaram em queda à tarde, mesmo com o dólar renovando máximas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu anunciar medidas em menos de 48 horas. Lá fora, no intervalo entre a sessão regular e a estendida, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou situação de emergência nacional, o que permitirá a liberação de US$ 50 bilhões para lidar com o coronavírus. Com isso, as taxas na etapa estendida ampliaram o recuo.
Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista-chefe da Ativa Investimentos, nem considera a trajetória das taxas hoje como “melhora”. “É apenas uma devolução parcial do que subiu nos dias anteriores, com muito prêmio acumulado. Não é melhora, é um ajuste”, resumiu. E, segundo ele, o pré descolou do câmbio porque a piora dos DIs nos últimos dias foi mais acentuada do que o avanço do dólar.
Outros profissionais veem o câmbio também pressionado pelo aumento das apostas de corte da Selic em março. Segundo o Haitong Banco de Investimentos, a precificação na curva a termo hoje ficou em -19 pontos-base, ou 75% de possibilidade de corte de 0,25 ponto porcentual e 25% de possibilidade de manutenção.
Com o foco das atenções no exterior, o temor com a área fiscal, em meio aos riscos de mudança no teto do gastos, o aumento do limite do BPC e possível mudança da meta fiscal, ficou um pouco de lado. “A mudança de meta seria muito ruim, com o governo voltando a práticas antigas, e isso poderia justificar mais prêmios de risco na curva”, diz Freitas Filho.
Por Denise Abarca
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