Instantes após leilão de abertura, o mecanismo de circuit breaker foi acionado na B3, com o Ibovespa cedendo 11,65%, aos 75.247,25 pontos. Trata-se da terceira vez esta semana que os negócios são paralisados, o que é algo histórico na Bolsa brasileira.
Além da paralisação dos negócios à vista, o Ibovespa futuro continua sem negociação desde as 9 horas, quando o índice caía 5,18%, aos 76.365 pontos.
A aversão a risco nos mercados parece que veio para ficar e o que se vê é um movimento generalizado de perdas nas bolsas mundiais, onde várias já entraram em bear market, inclusive o Ibovespa. Depois de a Organização Mundial de Saúde (OMC) declarar que o coronavírus é uma pandemia, o medo entre investidores agravou-se após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, suspender viagens da Europa para o país.
No Brasil, os casos confirmados da epidemia só estão aumentando, levando o Ministério da Saúde a traçar um cenário de contágio em espiral do coronavírus a partir da semana que vem. Além disso, internamente, há riscos fiscais e políticos que estão no radar.
O Ibovespa futuro iniciou os negócios com forte perda e já travando os negócios com queda de 5,18%, aos 76.365 pontos, atingindo o limite de baixa. O dólar à vista, por sua vez, bateu R$ 5,00 e o Banco Central já realizou dois leilões de moeda à vista. As quedas na Europa e nos índices futuros norte-americanos aceleraram depois que o Banco Central Europeu (BCE) manteve a taxa de depósito em -0,50%. Esse clima deve contaminar a Bolsa brasileira, que pode ter seu terceiro circuit breaker acionado na semana, algo, se confirmado, histórico para uma semana.
Quando isso acontece, a negociação fica suspensa por 30 minutos. Reabertos os negócios, caso a variação do Ibovespa atinja uma oscilação negativa de 15% em relação ao índice de fechamento do dia anterior, os negócios são interrompidos por uma hora.
O circuit breaker permite, na ocorrência de movimentos bruscos de mercado, o amortecimento das ordens de compra e de venda. Ontem, o Ibovespa fechou em baixa de 7,64%, a 85.171,13 pontos.
Já bear market ocorre quando da máxima à mínima no ano a oscilação dos índices acionários supera 20% de baixa. Na B3, o teto de referência é o fechamento de 23 de janeiro. Naquela ocasião, o Ibovespa atingiu seu recorde em mais de 40 anos de existência, alcançando os 119.527,63 pontos e, oficialmente entrou nesse sistema na segunda-feira, dia 9, quando marcou 86.067,20 pontos.
Para o estrategista-chefe do Grupo Laatus, a quinta-feira pode ser o pior dia para os mercados, sobretudo para os domésticos, que tendem a sofrer mais em relação ao exterior, como já vem acontecendo nos últimos dias. Além da tensão por conta das preocupações com a disseminação do coronavírus no mundo, o estrategista ressalta que o ambiente interno também não ajuda a limitar as perdas, ao fazer referência à decisão de ontem do Congresso.
Ontem, o Parlamento derrubou o veto do presidente Jair Bolsonaro ao projeto que eleva o limite de renda familiar per capita para concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). O governo estima um impacto de R$ 217 bilhões em uma década com a derrubada do veto, sendo R$ 20 bilhões apenas este ano. “Já tem as preocupações por conta do coronavírus e, internamente, as coisas não ajudam”, diz Laatus.
“Os congressistas tiveram uma atitude irresponsável ainda mais neste momento. De onde vai tirar esse dinheiro?”, questiona Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença DTVM.
Ao contrário da queda na faixa de 6%, o minério fechou em alta. No entanto, Monteiro ressalta que neste momento isso não significa nada, no sentido de impulsionar os negócios. “Não resolve nada, com as bolsas despencando e ADRs caindo mais de 10%, da Petrobras, em Nova York”, cita. Os ADRs da Vale também cedem no pré-mercado norte-americano.
Por Maria Regina Silva
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