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Bolsa fecha em queda de 14,78% e acumula até aqui perda de 25,93% na semana

A atipicidade parece se normalizar de um dia a outro nesta semana, com o Ibovespa tendo saído de 97.996,77, em baixa de 4,14% no fechamento da última sexta-feira, para 72.582,53 pontos, em queda de 14,78% no encerramento desta quinta-feira, uma perda de mais de 25 mil pontos ao longo de apenas quatro sessões, refletindo a pandemia de coronavírus, agora bem próxima a líderes políticos como os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump. O exame de Bolsonaro para covid-19 fica pronto amanhã, após a confirmação de que o secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, está em isolamento domiciliar, com a doença. Ambos estiveram com Trump no fim de semana, em jantar na Flórida, mas o presidente americano disse não estar preocupado com a possibilidade de infecção.

Apesar da tranquilidade de Trump, após ter fechado os EUA a voos da Europa continental, a acentuada aversão a risco no mercado financeiro global leva as referências a derreter, dia a dia. Na segunda-feira, o Ibovespa havia cedido 12,17% e, agora, mais 14,78%, ambas as maiores perdas diárias desde 10 de setembro de 1998, quando o índice caiu 15,83%, em meio à crise da Rússia. O nível de fechamento desta quinta-feira foi o menor desde 28 de junho de 2018, quando o Ibovespa havia encerrado aos 71.766,53 pontos.

Hoje, o circuit breaker foi acionado duas vezes pela manhã na B3 e, à tarde, uma terceira interrupção, “branca”, ocorreu quando o Ibovespa operava com perdas bem perto de 19% – não houve acionamento do mecanismo, na medida em que a B3 ampliou o limite de flutuação do índice futuro, o que “congelou” tanto o índice à vista como o futuro, com todas as ações do Ibovespa sendo colocadas em leilão. A iniciativa deu alívio à pressão sobre o índice à vista, que chegou a cair 19,59%, aos 68.488,29 pontos no pior momento do dia, mas desde então se afastou das mínimas. Até aqui, o circuit breaker foi acionado quatro vezes na semana, algo sem precedentes – uma na segunda-feira, outra ontem e mais duas nesta quinta-feira.

Embora tenha ajudado a conter as perdas no pior momento do dia, aqui e em Nova York, nem o anúncio pelo Federal Reserve de que pode injetar US$ 1,5 trilhão em liquidez, por meio de operações de recompra (repo), foi o suficiente para acalmar de todo o mercado, em queda acima de 9% para os três índices de referência de NY no fechamento desta quinta-feira. Na Europa, as bolsas tiveram a maior perda diária de que se tem registro no velho continente. Na França, o avanço do coronavírus levou o presidente Emmanuel Macron a determinar o fechamento de todas as creches, escolas e universidades do país.

“Não dá pra dizer nada no momento, seria chute. A economia real está parando no mundo: companhias aéreas deixando de voar, hotéis deixando de receber hóspedes, o cliente em geral deixando de consumir, convenções e eventos deixando de acontecer. É um dia de cada vez”, diz Ari Santos, operador de renda variável da Commcor, com 40 anos de experiência e que não se lembra de situação semelhante.

Assim como ontem, Gol e Azul voltaram a compartilhar a ponta negativa do Ibovespa na sessão, com a primeira em queda de 36,29% e a segunda, de 32,89% no fechamento de hoje, com CVC logo a seguir, em baixa de 29,11%. O setor de viagem e turismo tem sido o mais castigado pela disseminação global do coronavírus. Entre as blue chips, Petrobras PN fechou em baixa de 20,50% e a ON, de 21,08%, enquanto Vale ON cedeu 13,23% na sessão. Como tem sido a norma em dias de queda espalhada, nenhuma ação do Ibovespa fechou o dia no positivo. Entre os bancos, Bradesco PN caiu 13,41%, Banco do Brasil, 13,29%, e Itaú Unibanco, 9,82%.

O declínio acumulado pelo principal índice da B3 chega a 25,93% na semana, após queda de 5,93% na passada e de 8,37% na anterior. No mês, o Ibovespa cede agora 30,32% e no ano perde 37,24%. O giro financeiro totalizou hoje R$ 30,2 bilhões, abaixo da média das sessões anteriores, nas quais vinha se mantendo em torno de R$ 40 bilhões.

Em relação ao pico histórico de fechamento do Ibovespa, de 119.527,63 pontos em 23 de janeiro, quase 47 mil pontos evaporaram desde então. Considerando o fechamento anterior à quarta-feira de cinzas (aos 113.681,42 naquela sexta-feira, 21 de fevereiro), as perdas chegam agora a 41 mil pontos, refletindo a forte correção que se impôs no período posterior ao carnaval, com o alastramento do coronavírus, declarado pandemia ontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Por Luís Eduardo Leal

Estadão Conteúdo

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