Economia

Após paralisação, Bolsa reabre negociações e perdas se mantêm acima de 11%

Em meio às incertezas para a economia global provocadas pelo avanço do coronavírus e ao temor com os rumos do ajuste fiscal no Brasil, após o Congresso aprovar uma medida que cria um novo gasto de R$ 20 bilhões ao ano para o governo, o mercado financeiro vive mais um dia de perdas.

A B3, Bolsa de Valores de São Paulo, acumulou mais de 11% de queda em menos de 20 minutos de negociações, e acionou o “circuit breaker”, que para o mercado por 30 minutos. Essa é a primeira vez desde que foi criado, em 1997, que o mecanismo é acionado por três vezes, em dias diferentes, numa mesma semana. O dólar também abriu as negociações nessa quinta-feira, 12, em forte alta. A moeda americana começou o dia cotada a R$ 5,0280, maior valor nominal (sem levar em conta a inflação) desde o início do Plano Real.

Perto das 11h, a Bolsa reabriu as negociações, aumentando as perdas, se mantendo acima de 11% de queda.

As bolsas norte-americanas também entraram em “circuit breaker” instantes após a abertura. Por lá, as bolsas foram travadas em queda na faixa de 7,00%, enquanto na B3, o Ibovespa travou ao despencar 11,65%, aos 75.247,25 pontos. Às 10h53, os índices americanos voltaram a operar.

Dólar
A redução das altas responde ao anúncio do Tesouro de recompra e venda de títulos públicos, que representa injeção de liquidez no mercado, diz Vanei Nagen, da Terra investimentos. Segundo ele, nos dois leilões com oferta de cerca de US$ 2,5 bilhões, mais cedo, o BC vendeu um total de US$ 1,610 bilhão, ou 64,4% da oferta. “Foi venda parcial porque não é grande o apetite no mercado pela compra de dólar nesses níveis de preço”, explica Nagen. Durante esses leilões o dólar era cotado acima dos R$ 4,90. Após a abertura da sessão, quando as máximas foram registradas, o dólar à vista subiu até R$ 5,0280 (+6,47%), enquanto o dólar abril saltou a R$ 5,0340 (+4,36%). É a primeira vez que o dólar chegou a encostar e a ultrapassar os R$ 5,00 no País.

Contexto mundial
Todo esse pânico reflete a decisão anunciada ontem pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de considerar o coronavírus uma pandemia. Mais à noite, ainda na quarta, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a suspensão de voos provenientes da Europa aos EUA, visando a diminuir as possibilidades de contágio. Com isso, as Bolsas na Ásia passaram a ter perdas relevantes, fechando em queda generalizada na madrugada desta quinta. Os mercados europeus operam, neste momento, em baixa – também generalizada -, e o petróleo recua mais de 5%, nos dois principais índices – WTI e Brent.

O petróleo ainda causa um caos à parte nas Bolsas no mundo inteiro. Desde o início da semana, os preços vêm sofrendo grandes oscilações. Para se ter uma ideia, na segunda-feira, 9, a commodity caiu para o menor valor em quase 30 anos, para patamares que não eram atingidos desde 1991, época da Guerra do Golfo.

No Brasil, além de tudo isso, ainda há o componente local de discordância entre Executivo e Legislativo em relação ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). O Congresso derrubou ontem o veto do presidente Jair Bolsonaro ao projeto que eleva o limite de renda familiar per capita para concessão do BPC, um auxílio pago a idosos de baixa renda e pessoas com deficiência. No Senado, foram 45 votos pela derrubada do veto a 14 e, na Câmara, 302 a 137. A votação significa uma derrota para o governo, em meio a uma crise entre os dois Poderes na disputa pelo controle do Orçamento. A equipe econômica deve buscar uma saída jurídica para tentar barrar a decisão. O governo estima um impacto de R$ 217 bilhões em uma década com a derrubada do veto, sendo R$ 20 bilhões apenas este ano.

Medida comum nas últimas negociações de dólar no Brasil, o Banco Central realizou leilão no mercado de câmbio de US$ 2,5 bilhões, às 9h15. Inicialmente, seria ofertado R$ 1,5 bilhão. Deste valor, foram vendidos apenas US$ 1,278 bilhão, e há pouco o BC anunciou outra oferta à vista equivalente à diferença não negociada. Já no exterior, o Banco Central Europeu (BCE) divulga decisão de política monetária às 9h45.

ETF de mercados emergente cai
O iShares MSCI Emerging Markets (EEM), fundo de índice (ETF, na sigla em inglês) de mercados emergentes, que acompanha as principais cotações de Bolsas dos respectivos países considerados para o grupo, negociado em Nova York, opera em forte queda no pré-mercado na manhã desta quinta-feira, seguindo o mau humor generalizado dos mercados financeiros globais. Às 9h10 (de Brasília), o EWZ tinha baixa de 3,79% no pré-mercado, a US$ 36,04.

Juros disparam até 123 pontos
A extrema aversão a risco global fez os juros futuros dispararem até 123 pontos na abertura, atingindo os limites de alta entre os vencimentos para janeiro de 2021 a janeiro 2025, travando os negócios. Há pouco, apenas o DI para janeiro 2021, correlacionada à precificação da taxa Selic, por exemplo, subia menos que o limite de alta. Às 9h19, a taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 estava em 4,99%, na mínima, de 4,21% no ajuste de ontem. O DI para janeiro de 2022 disparava para 6,13%, no limite de alta, de 5,03%. O DI para janeiro de 2023 avançava para 7,10%, no limite de alta, de 5,92%. O DI para janeiro de 2025 subia para 8,12%, no limite de alta, de 6,89% no ajuste anterior. / LUCIANA XAVIER, SILVANA ROCHA, SERGIO CALDAS, ANDRE VIEIRA, EDUARDO GAYER E FELIPE SIQUEIRA

Estadão Conteúdo

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