As bolsas de Nova York tiveram mais um dia de fortes perdas, com os três principais índices acionários chegando a operar em bear market, pressionadas pela decepção quanto à falta de detalhamento sobre o pacote de estímulos econômicos dos Estados Unidos para lidar com os efeitos do coronavírus. A decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de declarar o surto uma pandemia também aprofundou o nervosismo no mercado.
O índice Dow Jones fechou em baixa de 5,86%, em 23.553,22 pontos, encerrando em bear market pela primeira vez desde a crise financeira de 2008. Já o S&P 500 perdeu 4,89%, a 2.741,38 pontos e Nasdaq cedeu 4,70%, a 7.952,05 pontos.
Após sinalizações de várias autoridades americanas na véspera, os mercados amanheceram hoje à espera do anúncio de medidas para aquecer a economia em meio ao choque do coronavírus. O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, chegou a informar que o governo injetaria US$ 200 bilhões na economia, mas a percepção de falta de detalhes da proposta desagradou muitos traders.
“Com o aumento de novos casos de coronavírus, a pressão para ações fiscais e monetárias coordenadas também vão crescer”, avalia o ING.
À tarde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a decisão de classificar a epidemia como uma pandemia, sob argumento de que os níveis de disseminação e de gravidade são “alarmantes”. A notícia aprofundou as perdas nas bolsas e, por volta das 16h30, os três principais índices acionários americanos atingiram patamar de bear market, uma queda de mais de 20% em relação ao último pico. No entanto, apenas o Dow Jones fechou o pregão nesse nível.
“O fim do bull market significa o fim da confiança em nossos futuros. Valorizamos o futuro demais e, agora, os preços precisam voltar a cair”, analisa o diretor-gerente do MUFG, Chris Rupkey.
Entre os setores, as ações das gigantes do Vale do Silício fecharam com fortes quedas, após o Reino Unido revelar planos de taxar esses serviços. Os papeis do Facebook caíram 4,48%, os da Amazon recuaram 3,75% e os do Google perderam 5,04%. No setor industrial, a Boeing, que desistirá de um empréstimo de US$ 13,825, segundo relatos, e enfrentou cancelamento de encomendas, despencou 18,15%.
Preocupada com a liquidez no sistema bancário, a distrital de Nova York do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) informou que ampliaria os limites para suas operações de recompra (repo), de US$ 150 bilhões para US$ 175 bilhões no caso dos títulos a termo. A instituição também disse que oferecerá papéis de um mês, a partir de amanhã. Mesmo assim, os bancos registraram baixas consideráveis, com o Goldman Sachs cedendo 6,76%, o JPMorgan recuando 4,71% e o Citigroup, 8,62%.
Com o amplo noticiário, a informação de que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA subiu 0,1% em fevereiro ante janeiro ficou em segundo plano. “Não há nada nos dados de inflação que impeçam o Fed de reduzir os juros a perto de zero nos próximos meses e de deixá-los assim por um longo período”, destaca a Capital Economics.
Por André Marinho
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