Conselheiro de investimentos e sucessão patrimonial para famílias muito ricas ao redor do mundo, Charles A. Lowenhaupt avalia que o momento vivido pelos investidores atualmente chega a ser pior que a crise de 2008. “Estou neste ramo há 40 anos e nunca estive em um período de tanta ansiedade”, afirma. Ele é o presidente da Lowenhaupt Global Advisor, um family office americano, além de sócio do Lowenhaupt & Chasnoff, que diz ser o primeiro escritório de advocacia dos Estados Unidos a focar seu trabalho em tributação – o escritório foi fundado por seu avô, em 1908.
Lowenhaupt afirma que, em um momento como o atual, os investidores devem organizar seu portfólio para suportar melhor a volatilidade. Neste mês, ele lança no Brasil seu livro Freedom from Wealthy. Aqui, terá o título de Patrimônio e Liberdade e tem parceria de Leonardo Wengrover, sócio-fundador da W Advisor que, entre outras medidas, trabalhou para adaptar o conteúdo à realidade brasileira. A seguir, trechos da entrevista.
Em 2008, em entrevista ao jornal “The New York Times”, o sr. falava sobre a crise e como aconselhava seus clientes. Agora estamos vivendo um momento tenso, com as Bolsas mundiais em razão do coronavírus. O que muda?
Estou neste ramo há 40 anos e nunca estive em um período de tanta ansiedade entre pessoas do mundo todo. Não é só o coronavírus, é a incerteza sobre estarmos deixando a globalização, o que as pessoas sentem que está acontecendo. É a incerteza sobre o que vai acontecer daqui para a frente. Acho que o que estamos vivendo agora é mais dramático. As pessoas não estão certas de para onde o mercado está indo.
Está pior que em 2008?
Sim, porque em 2008 as pessoas sentiam que havia líderes ao redor do mundo, que os bancos centrais poderiam lidar com o que estava acontecendo. Havia muita insegurança, não me entenda mal, mas hoje o problema parece muito grande e difícil de lidar.
As taxas de juros no mundo todo estão cada vez mais baixas e as economias não voltam a crescer. A impressão é de que a política monetária dos bancos centrais não está funcionando.
Esse é um risco que precisa ser levado em conta na gestão de patrimônio. Assim, a primeira pergunta é: você tem dinheiro suficiente para cobrir despesas por um ano? Quando você tem caixa, a grande questão não será buscar uma taxa de juros máxima mas, sim, como manter esse patrimônio seguro. Temos visto mais famílias perderem dinheiro por aderir a altas taxas de juros em títulos de crédito, do que por investir em boas empresas. Para investir, você tem de saber se aquele é um bom negócio. Um portfólio bem construído de ações tem ido extraordinariamente bem num horizonte de longo prazo. Se eu estivesse aconselhando brasileiros, diria: certifique-se de que tem caixa suficiente, então diversifique algo em torno de 20% ou 30% em títulos (de governo ou dívidas) e ponha o resto em boas ações. Diria ainda: não ponha mais que 2% ou 3% do seu patrimônio em cada um dos papéis. Compre ações de empresas globais.
Por que é tão importante investir em empresas globais?
Este é o caminho para lidar com alguns desafios. Por exemplo, sei sobre negociar moedas. Mas não importa o quanto eu saiba, uma empresa internacional sabe mais sobre isso. Logo, comprar ações, cotas dessa empresa, faz mais sentido do que comprar moedas estrangeiras.
No último ano, a Bolsa brasileira registrou recorde de CPFs ativos. Que conselho o senhor daria para esses novos investidores?
As lições a serem aprendidas são lições de governança. As pessoas acham que podem comprar ações e títulos quase intuitivamente, mas não é assim. Você tem de ter um processo e a diversificação é importante. É preciso reconhecer que haverá volatilidade e se certificar de que tem dinheiro em caixa, nas moedas corretas, para atravessar esses momentos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Talita Nascimento
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