Economia

Semana marcada por queda nas bolsas e alta no dólar

Até quanto o dólar pode subir? O que o Banco Central (BC) vai fazer?  É o que todo mundo quer saber, porém, ainda ninguém  tem as respostas. A se considerar o movimento dos mercados durante a madrugada, há várias razões para se acreditar que a alta do câmbio continua, salvo se o BC surpreender o mercado e anunciar medidas drásticas e inesperadas para aliviar a tensão sobre o dólar. E o impacto no mercado de juros, que já se tornou mais perceptível, deve continuar na ausência de uma sinalização clara para a Selic.

O movimento do câmbio na quinta-feira (5) foi drástico. O dólar subiu 1,5% e fechou a R$ 4,65. O Ibovespa recuou 4,65% e fechou a 102.233 pontos, depois de tocar o perigoso “nível psicológico” de 100 mil pontos. Enquanto os mercados aqui estavam fechados, os pregões do outro lado do planeta continuavam caindo. Em Xangai, o índice SSE caiu 1,21% e em Tóquio o Nikkei recuou 2,72%. Na Europa, onde os mercados ainda estão abertos nesta manhã, o alemão Dax está em queda de 3,52% e o britânico FTSE recua 3 por cento. E os contratos futuros do S&P 500 recuam 2,2%. Durante a madrugada, o principal índice americano caiu abaixo dos 3 mil pontos pela primeira vez desde outubro do ano passado.

A disparada do dólar explica-se por três motivos. O primeiro é um movimento global de fuga para ativos seguros. Não por acaso, o barril do petróleo desabou. Nesta manhã, tanto o Brent quanto o West Texas Intermediate (WTI), tipos de óleo cujos preços servem de referência, recuam 3,4%. O barril do Brent, que havia caído abaixo de US$ 50 no fechamento dos negócios na quinta-feira, recuou para US$ 48,25. Além da fuga dos investidores, a baixa deveu-se a declarações russas de que o país não vai apoiar novos cortes na produção. As declarações foram dadas no segundo dia da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em Viena. No sentido inverso, o ouro subiu e vem sendo negociado a níveis recordes.

O segundo motivo é a baixa dos juros no Brasil. Mesmo se o coronavírus não existisse e se a economia brasileira estivesse com muito mais pujança do que de fato está, o câmbio se ajustaria para cima devido à baixa estrutural da Selic. Com rendimentos menores, encolhe o interesse dos investidores de fora para comprar reais de modo a arbitrar as taxas de juro brasileiras e internacionais.

E o terceiro motivo, que começou a ser discutido mais abertamente na quinta-feira, é se a atuação do Banco Central (BC) nos mercados de câmbio e de juros não estaria sendo tímida demais. Os banqueiros centrais de outros países não hesitaram em agir. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) saiu do script ao reduzir os juros em meio ponto percentual na terça-feira (3). Nesta sexta-feira, três dos membros do Federal Open Market Committee (Fomc), o Copom americano, farão discursos e deverão indicar para o mercado que o Fed deve realizar novos cortes nos próximos dias.

Por aqui, o movimento tenso do mercado (o dólar chegou a um pico de 4,667 reais) e obrigou o BC a realizar três leilões de swap cambial para reduzir a tensão. Foram vendidos 60 mil contratos de swap cambial, que equivalem à injeção de 3 bilhões de dólares no mercado futuro, mas isso não impediu um novo recorde do câmbio. No entanto, a última comunicação oficial do BC indica que a autoridade monetária deve enfrentar a desaceleração econômica provocada pelo coronavírus com mais cortes nas taxas de juros.

Esse movimento aumentaria a pressão de alta no câmbio. Luiz Masagão, diretor de Tesouraria do banco Santander Brasil, disse ao Valor Econômico que “diferentemente do que ocorreu nos últimos dias, quando a desvalorização do real tinha afetado pouco outros ativos, agora a preocupação com o dólar alto começa a contaminar outros mercados”. Na prática, os juros de longo prazo começaram a subir.

Até onde eles podem avançar? Essa é a pergunta que o mercado queria muito ver respondida. Sergio Goldenstein, que já chefiou o Departamento de Operações de Mercado Aberto (Demab) do BC, disse que a autoridade monetária se precipitou ao sinalizar com tanta ênfase que iria reduzir a Selic. “O BC subestimou o movimento do câmbio e seus eventuais efeitos sobre as condições financeiras e a inflação”, diz Goldenstein. “Ao sinalizar que pode levar o juro real a um patamar próximo de zero, o BC acirrou a desvalorização cambial e a inclinação da curva de juros, tornando as condições financeiras mais restritivas.”

A abertura dos mercados mostra que o dia será tenso. Os contratos futuros de Ibovespa abriram com queda de 3,7%Q, a 98.562 pontos, rompendo os 100 mil pontos. E o dólar aguarda mais definições. A semana se encerrará com fortes emoções.

Redação Mercado News

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