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Maior preocupação com o surto de coronavírus é pânico do mercado, diz economista

O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e economista-sênior da LCA Consultores, Braulio Borges, avalia que a maior preocupação com o surto de coronavírus é o pânico que está ocorrendo no mercado financeiro. No seminário Perspectivas 2020 – 1º trimestre, evento realizado em parceria do Ibre/FGV com o jornal O Estado de S. Paulo, Borges destacou que o mundo está mais alavancado hoje e há menos espaço para políticas econômicas, já que boa parte das ferramentas foi usada na última crise global.

Segundo Borges, o pânico nos mercados ininterruptos há duas semanas pode trazer não-linearidades e podem gerar uma crise sistêmica. “Chance de pânico nos mercados gerar riscos de não-linearidades e crise sistêmica cresce.”

Do ponto de vista de política monetária, Borges avaliou que a crise do coronavírus parece ser ligeiramente desinflacionaria. “Para mim, é mais para neutro por causa do câmbio.”

De qualquer forma, o economista lembra que a inflação já dava espaço para corte de juros mesmo antes dessa crise e que, embora a mediana do Boletim Focus para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2021 esteja no centro da meta (3,75%), a média já está abaixo desse patamar. “A inflação mostra espaço para corte de juros.”

Borges destaca, contudo, que a depreciação cambial tem efeitos negativos para a demanda e também para o balanço financeiro das empresas.

O Ibre espera queda dos juros para 3,75% este ano, informou a coordenadora do Boletim Macro da instituição, Silvia Matos.

Já o pesquisador do Ibre/FGV, Livio Ribeiro, questiona se um corte de juros de até 0,75 ponto porcentual da taxa Selic em um momento de pânico mudará o panorama da economia brasileira.

Mas Borges e Ribeiro concordam que a redução do diferencial de juros não parece ser o principal fator para a depreciação do real. “Alta do dólar é mais por causa do pânico dos mercados”, disse Borges. Ribeiro notou que os juros eram de 14,25% em 2015 e hoje estão em 4,25%, então a potência dessa redução teria que aumentar agora para uma queda para faixa de 3% ter um efeito grande no câmbio, explica. “A questão do diferencial de juros mudou em 2018.”

Para Ribeiro, o Brasil enfrenta problema de atratividade de capital, até porque, com as reformas, várias regras estão mudando e, mesmo que seja para melhor, o investidor tende a esperar a definição para fazer seus aportes. Ele avalia ainda que, no contexto atual, em relação aos pares latino-americanos, por exemplo, o mercado financeiro brasileiro é maior, portanto com maior liquidez, costuma ser o canal dos investidores para operar uma posição contrária no câmbio.

Por Thaís Barcellos

Estadão Conteúdo

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