Com o surto de coronavírus provocando aversão ao risco nos mercados globais, a saída de capital de estrangeiros da Bolsa se acelerou em fevereiro. Até quarta-feira, dado mais recente disponível, o investidor externo havia retirado R$ 35 bilhões do mercado acionário em 2020. Somente em fevereiro, foram feitas retiradas acima de R$ 1 bilhão em 10, de um total de 16 pregões. Foram reportadas entradas em apenas duas sessões. O número fechado do mês deve ser conhecido na próxima quarta-feira.
A crise produzida pelo coronavírus afeta o preço das ações das empresas, o que derruba as Bolsas pelo mundo, porque as medidas restritivas para combater a doença levaram, por exemplo, à paralisação das fábricas chinesas, que fornecem componentes para as indústria em outros países. Os investidores temem perdas em seus papéis. O efeito se espalha para a economia com a queda no consumo.
As retiradas acumuladas em 2020 são equivalentes ao reportado nos primeiros 11 meses de 2019 (até o dia 13 de novembro) e já se aproxima do saldo negativo histórico do ano passado, de R$ 44,5 bilhões. O valor também supera com folga o recorde nominal anterior registrado em 2008, de R$ 24,6 bilhões, ano da crise financeira global. À época, porém, havia menos negócios no mercado de ações. Dias antes da quebra do banco Lehman Brothers, estopim da crise, a Bolsa brasileira havia chegado aos 52 mil pontos, ontem ela fechou em 104.171 pontos.
Na quarta-feira, com notícias mais alarmantes sobre a disseminação do coronavírus pela Europa, a Bolsa registrou saída diária recorde de R$ 3,068 bilhões – o maior valor nominal registrado desde o início da compilação dos dados, em 1994. Ao Estadão/Broadcast, analistas afirmam que ainda é incerto se essa fuga deve se intensificar, mas veem continuidade no fluxo de retirada ao longo do ano.
O coronavírus intensificou – e pode acentuar por algum tempo – uma realidade vivida no Brasil desde que a queda nas taxas de juros básicas começou a se intensificar. Juros mais altos são um grande atrativo a estrangeiros. No novo cenário, eles passaram a ganhar menos e continuaram a correr o risco cambial de investir no País.
Assim, preferem a volta à segurança. Os títulos públicos americanos, na avaliação de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, continuam como principal refúgio desse investidor global. “O surto de coronavírus só veio para piorar um cenário que já estava ruim.”
Além do coronavírus, André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora, diz que o investidor de fora vai olhar, nos próximos meses, para a relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o Congresso. “O mercado pode precificar que não vai mais haver reformas, ou que elas vão atrasar”, diz.
Entre as principais Bolsas globais, a brasileira foi a que registrou a maior queda em dólares no acumulado do ano.
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