Ao final de uma semana turbulenta – em certo momento como não se via desde 2008, o auge da crise global -, o Ibovespa conseguiu defender bem a linha psicológica de 100 mil pontos, acumulando perdas inferiores às observadas em Nova York. Após ter ido para o carnaval aos 113.681,42 pontos, o principal índice da B3 chega ao final da semana aos 104.171,57 pontos, alongando os ganhos no fim da sessão, em alta de 1,15% no fechamento, na máxima desta sexta-feira, tendo queimado 9,5 mil pontos frente ao nível anterior às folias de Momo. Na mínima do dia, o índice chegou nesta sexta-feira, 28, aos 99.950,96 pontos.
Assim, fevereiro, com perda de 8,43%, foi o pior mês desde maio de 2018, quando o índice cedeu 10,87% – em certo momento do dia, quando se aproximavam de 12%, as perdas chegavam a ser as piores desde novembro de 2008.
O desempenho desta sexta-feira é especialmente notável quando comparado ao dos três índices de Nova York e às referências europeias (Londres, Frankfurt e Paris), que acumularam perdas de dois dígitos na semana, entre 11% e 12,4%. Com a progressão observada no fim da sessão de hoje – ante queda de 1,39% no Dow Jones, que reúne as blue chips de Wall Street -, o Ibovespa teve baixa de 8,37% ao longo da semana, de apenas três pregões.
Ainda assim, as perdas do período na B3 foram as maiores desde a semana encerrada em 5 de agosto de 2011, quando o Ibovespa cedia 9,99% em meio a incertezas que prevaleciam então sobre o endividamento de países do sul da zona do euro, como Itália, Espanha, Grécia e Portugal. Dolarizado, o Ibovespa chegou ao fim de fevereiro a 23.260,37, comparado a 26.548,55 no final de janeiro – ou seja, ficou 12,4% mais barato no período.
Nesta sessão, ações defensivas, como Eletrobras ON (+3,07%), ajudaram a mitigar o ajuste que chega de fora, em meio ao prosseguimento dos temores sobre o coronavírus. Muito descontadas, as ações de bancos como Bradesco ON (+2,40%), Itaú Unibanco PN (+2,99%) e Banco do Brasil ON (+2,34%) também contribuíram para dar resiliência ao Ibovespa neste último pregão da semana. Destaque para alta de 7,26% na MRV, na ponta do Ibovespa na sessão desta sexta-feira.
“Com mais volatilidade, os day traders (operadores de volatilidade) operam mais vezes durante a sessão, entrando e saindo, o que explica este aumento de volume financeiro que vimos na semana”, diz Ari Santos, operador de renda variável da Commcor, referindo-se ao giro superior a R$ 30 bilhões em cada sessão do período – nesta sexta-feira, ficou em R$ 40,0 bilhões, o maior do período, após ter chegado a R$ 39,5 bilhões no dia anterior.
A perspectiva de que o Copom volte a cortar juros já em março, em meio aos sinais de desaquecimento da demanda em nível global, contribui para que investidores com caixa aproveitem descontos nas ações para reforçar posições. “Há também a possibilidade de giro de carteira, com transferência de recursos para setores mais depreciados, como o de bancos, que não acompanharam o avanço do Ibovespa”, observa Santos.
O descolamento do exterior pode ser em parte racionalizado. “As ações em Nova York estavam mais esticadas, vindo de máximas, o que ajuda a entender o movimento mais acentuado visto por lá ao longo da semana. Aqui como lá, há uma reação emocional, induzida pela disseminação acelerada de informações sobre o coronavírus, o que contribui para a volatilidade”, diz Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos.
Por Luís Eduardo Leal
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