Com a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil – um empresário de 61 anos em São Paulo -, subiu o alerta para a possibilidade de epidemia no País. E os governos começaram a colocar em prática os planos de vigilância e controle para conter a doença, destaca o jornal O Estado de S. Paulo. O risco, talvez mais do que a epidemia em si, é de que o pânico da população possa levar a uma corrida desnecessária e a uma sobrecarga do sistema de saúde.
Esta foi a tônica dos pronunciamentos ontem do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde paulista. É também o que defendem os especialistas. Todos explicam que, apesar de ser uma doença sobre a qual ainda não se conhece completamente a dinâmica de transmissão, trata-se de uma síndrome respiratória, com epidemiologia parecida com outras já enfrentadas no Brasil. E como as gripes, em geral, se manifesta com mais facilidade no inverno. Assim, o fato de o vírus ter chegado no verão pode ajudar a desacelerar uma propagação imediata.
É a primeira vez que o vírus é identificado na América Latina e a segunda no Hemisfério Sul. Além do Brasil, também chegou à Austrália onde, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), já foram confirmados 23 casos, sem mortes. “Vamos ver agora como o vírus vai se comportar em um país tropical, em pleno verão”, afirmou ontem o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
O Covid-19 tem sido transmitido rapidamente – até porque encontra populações sem imunidade para ela -, mas, em média, calcula-se que cada infectado contaminou só duas ou três pessoas. “É uma gripe. Mais uma que o mundo terá de enfrentar”, afirmou Mandetta, enfatizando que a doença não tem se mostrado grave. A taxa de mortalidade, em média, é de 2% a 3%, e tem atingido principalmente os idosos. A maioria apresenta quadro de leve a moderado.
“Na maioria dos casos, os que pegam evoluem muito bem e saem depois e vivem sua vida como se nada tivesse acontecido”, disse o ministro. Para ele, o mais delicado agora é a “infodemia” – epidemia de informações que criam “ansiedade e insegurança.” O Brasil tem 20 casos suspeitos, em sete Estados (São Paulo, Minas, Rio, Santa Catarina, Paraíba, Pernambuco e Espírito Santo). Até agora, 59 já foram descartados.
O governo está em fase final de compra de equipamentos, como máscaras e luvas. Já a contratação de mil leitos em hospitais, anunciada em janeiro, ainda está em análise. O governo corre para comprar imunoglobulina, usada para amenizar efeitos de infecções.
Segundo o presidente do conselho dos secretários de Saúde, Alberto Beltrame, nos planos apresentados pelos Estados foram considerados como fatores de maior preocupação a fronteira com a Venezuela, em Roraima, e a grande circulação de estrangeiros no Aeroporto de Guarulhos (SP).
Medidas
Especialistas ouvidos pelo Estado dizem que o plano do Brasil para vigilância e controle segue o regulamento sanitário internacional e epidemias anteriores, como a de influenza H1N1, em 2009, trouxeram experiência para lidar com a situação. Mas lembram que há problemas estruturais em alguns sistemas de saúde do País e um possível surto vai concorrer com outras moléstias que já existem, como a dengue. Alertam também que é preciso boa comunicação para evitar sobrecarga no sistema com casos leves, o que prejudica o atendimento de pacientes graves.
“Neste momento, só deve procurar o sistema de saúde quem tiver sintomas respiratórios (coriza, tosse, dor de garganta, dificuldade de respirar), acompanhados de febre. E que tenham estado, nos 14 dias anteriores ao início dos sintomas, em área que tenha transmissão local da doença, como China e Itália, ou em contato com infectado ou suspeito”, explica a médica Carolina Lázari, assessora em Infectologia do Fleury Medicina e Saúde.
Quem está fora dessas condições, por ora, não está sob suspeita. “O maior desafio é de comunicação. Neste momento a sobrecarga pode vir de classes mais altas, que têm recursos médicos privados. São elas que viajam ou têm mais contato com viajantes internacionais. Como conseguem pagar por teste em laboratórios, logo saem notícias de que esses locais estão lotados. E isso cria pânico em quem não tem acesso ao serviço privado”, diz Nancy Bellei, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
“O pânico não ajuda a resolver um problema de saúde coletiva”, diz Rivaldo Cunha, coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz. Ele afirma que em um número grande de casos, a pessoa fica doente, mas o problema se resolve sozinho, em alguns dias. “Sabemos que os quadros mais intensos têm ocorrido com pessoas mais velhas e com outras condições de base, como hipertensão, diabete, doença pulmonar crônica, problemas cardíacos.” Segundo ele, é importante entender que, se houver sintomas, a pessoa não deve ir à escola, trabalho, se possível, ou usar o transporte público para não levar a doença para outros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Daniel Weterman, Giovana Girardi, Mateus Vargas, Paloma Cotes e Paula Felix
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