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Após crise, bancos médios mudam estratégia para crescer

Os bancos médios ou de nicho mostraram nos resultados de 2019 que estão posicionados para crescer e enfrentar a concorrência, após passarem pelo menos três anos se recuperando da turbulência causada pela crise financeira de 2015 e da Lava Jato. Um grupo de oito instituições, três delas perto de ter ações listadas em Bolsa, encerrou o ano com lucro consolidado de R$ 5,32 bilhões, 33% acima do ano anterior. Se comparado a 2017, o aumento foi de 82%.

Os caminhos escolhidos para sobreviver aos efeitos da crise no mercado foram a diversificação dos negócios e serviços, a digitalização e o foco nas empresas menores. O grande evento para essas instituições está, no entanto, no forte crescimento das plataformas de investimento.

Por meio das plataformas de terceiros ou próprias, esses bancos têm captado recursos a custos mais competitivos, deixando de depender do apetite dos grandes bancos e outros investidores institucionais, majoritariamente os únicos compradores de certificados de depósito bancário (CDBs) e de letras financeiras (LFs) emitidas por eles até então.

Para boa parte dos bancos médios ou de nicho, agora é possível captar com custo inferior ao CDI, algo novo na história desse grupo. Por exemplo, o custo de captação do Banco Inter já se equipara ao do Banco do Brasil.

“Isso diminui a barreira de entrada para acesso a mais clientes”, afirma o analista da XP Investimentos Marcel Campos. Ele lembra que, somado a um gasto menor com agências e funcionários e capilaridade maior, por causa da digitalização, essas instituições no mínimo podem hoje competir com maior facilidade.

Campos diz ainda que a abertura do sistema bancário deve ser favorecida pela agenda do Banco Central relacionada ao open banking, pagamentos instantâneos e desconto de recebíveis.

Segundo o vice-presidente e analista sênior da agência de classificação de risco Moody’s, Alexandre Albuquerque, a rentabilidade dos bancos, de modo geral, é um dos principais focos de atenção da agência nesse momento, uma vez que a queda da Selic deverá testar a capacidade de oferecerem produtos e serviços competitivos para compensar a remuneração menor do patrimônio.

“A preocupação é colocar os recursos em empréstimos que tenham retorno adequado e rentabilizar essa alocação”, diz o analista.

Caminhos

Depois da crise de 2015, em que parte das instituições acabou varrida pela exposição excessiva a um único segmento ou empresa, a maioria focou sua carteira de empréstimos em empresas menores e no crédito consignado. Entre eles, está o banco ABC Brasil, que há um ano e meio reclassificou sua carteira, mirando clientes menores.

Paralelamente, entrou no segmento de pessoas físicas e aposta na diversificação de receitas, por meio de seu banco de investimentos. Banrisul e Pan também têm valorizado clientes menores. Enquanto o gaúcho está na disputa pelos microempreendedores, o Pan busca ser identificado como o banco digital das classes C, D e E. O consignado é o alvo do mineiro BMG e do Paraná Banco. O Daycoval se destaca no crédito para veículos usados.

No campo digital e de inovação, Inter e BV buscam voo mais longo. O Inter lançou no ano passado seu superapp, um marketplace com agressivo apelo de cash back para fidelizar clientes de grandes varejistas para consumirem todos os serviços da instituição mineira. Já o BV mira a estrutura do open banking e se prepara para isso há alguns anos, gestando fintechs e startups. O foco é se vender como uma plataforma de inovação para as novatas do mercado financeiro. Isso sem abandonar sua maior vocação, o crédito para o segmento de veículos.

Embora mirem mercados distintos, há consenso em uma estratégia: a volta para a Bolsa como forma de captação de recursos para expansão. Nesse sentido, Paraná e Daycoval, que saíram do mercado em 2016 e 2015, respectivamente, já anunciaram a reestreia no mercado acionário.

O BV também está na fila para emplacar uma oferta pública inicial de ações no Brasil – os sócios Banco do Brasil e a família Ermírio de Moraes preparam operação de R$ 5 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Por Cynthia Decloedt

Estadão Conteúdo

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