Diretor de investimentos do Deutsche Bank Wealth Management nas Américas, o indiano Deepak Puri não hesita ao ser questionado sobre o impacto da política ambiental do governo Bolsonaro na atração de investimento estrangeiro: “Sim, tem atrapalhado.”
“O mercado questiona o quão sensível o Brasil é para a questão ambiental. Esse tema foi o principal das discussões em Davos neste ano, mas escuto de nossos clientes há alguns anos”, disse.
Segundo ele, o Brasil pode perder 0,1 ponto porcentual do PIB em 2020 por causa do coronavírus, mas, ao que tudo indica, deve registrar uma recuperação mais forte neste ano.
Com o coronavírus, o que se pode esperar para a economia?
Sempre há riscos que podem mudar a trajetória da economia. O número do Deutsche Bank para o PIB global é 3,1% para 2019 e 2020. O que muda é o crescimento dos países. Esperamos que os EUA desacelerem de 2,2% a 1,6%. A China, e isso pré-coronavírus, de 6,2% para 5,8%. Mas há outros países acelerando, como Brasil, Índia e Rússia.
Mas 3,1% é um número bom? Há quem considere recessão global um PIB abaixo de 3%.
Não é muito bom, mas não é tão ruim. Está em um intervalo em que os bancos centrais podem estimular o crescimento. Por exemplo, os EUA crescendo 1,6% é abaixo do potencial. Mas, seis meses atrás, estávamos preocupados com uma recessão. O Escritório Orçamentário do Congresso dos EUA fez um estudo para ver qual seria o PIB médio para os anos 2020, e é 1,7%. Precisamos estar confortáveis com a ideia que não se cresce mais a 4%.
E qual seria o número global para os anos 2020?
Se você olhar para órgãos como FMI e Banco Mundial, eles diriam que 3,1% não é bom. Eles gostariam de algo próximo a 4%. O problema é que, globalmente, a taxa de crescimento demográfico é 2,1%. Então, 2,1% é o fluxo e, a partir daí, é preciso produtividade. E produtividade no mundo desenvolvido está diminuindo. Então, com 4%, as pessoas e os investidores ficariam felizes. Mas não estamos vendo isso.
Qual o impacto do coronavírus?
Achamos que pode tirar de 0,3 a 0,4 ponto porcentual do PIB chinês no ano. Mas o BC chinês vai estimular a economia e o governo também. Por isso, é cedo para mensurar o impacto. Mas, globalmente, devemos ver uma perda de 0,2 ponto porcentual.
Esse é o quarto ano que economistas dizem que o PIB brasileiro vai ganhar tração.Nos outros três anos, isso não se concretizou. Acha que agora vai?
Esperamos um crescimento de 2,3%, mas isso é pré-coronavírus. A epidemia pode tirar 0,1 ponto porcentual. Mas há razões estruturais para acreditar no crescimento. O fluxo de fundos, o dinheiro do exterior, começou a voltar. Também teve a reforma da Previdência. O que ainda desaponta são os dados da atividade. Mas o fato de o BC ter cortado os juros deu impulso aos negócios.
O sr. disse que o dinheiro está vindo para o Brasil. Mas, na Bolsa, por exemplo, o investidor estrangeiro ainda não voltou.
Não diria que a grande onda começou, mas há sinais de melhora. Entre 2015 e 2017, você não ouvia falar sobre o Brasil entre os investidores globais. Começou a haver conversas sobre o País em 2019, mas de forma devagar. Em vez do mercado de ações, vejo mais demanda no mercado de títulos.
Aqui há uma preocupação com a possibilidade de haver uma bolha na Bolsa. É possível?
Ouvi isso também para o mercado de ações dos EUA. O fato é o que os BCs estão transformando as ações mais atraentes ao cortar juros. Se há uma bolha, realmente não a vejo. Uma bolha significa que você está comprando sem prestar atenção nos fundamentos corporativos e macroeconômicos. Não vejo isso na B3 nem no S&P 500. Vejo uma reação muito otimista do mercado à política monetária expansionista.
O Brasil tem sido criticado por suas políticas ambientais. A postura do presidente Bolsonaro nessa área tem atrapalhado a atração de investimento estrangeiro?
Sim, tem. A governança ambiental e social está na cabeça dos investidores. Quando ocorre algo como abrir a Amazônia para a exploração, dá a percepção fora do Brasil de que o governo não se importa com o meio ambiente. O mercado questiona quão sensível o Brasil é para a questão ambiental. A questão do meio ambiente foi, de longe, a principal em Davos neste ano, mas estou escutando isso dos nossos clientes há alguns anos. No Deutsche Bank, estamos nos movendo para o que chamamos de performance com objetivo. Queremos investir onde haja um impacto positivo para a sociedade. É o modo que as pessoas vão investir agora e no futuro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Luciana Dyniewicz
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