Após duas sessões em recuperação, o Ibovespa voltou a fechar em terreno negativo nesta quinta-feira, com as ações de commodities, como Petrobras (ON -1,90%) e Vale (-1,75%), em baixa na sessão, apesar do desempenho positivo observado, mais uma vez, nos preços do Brent (+0,99% para abril) e do minério de ferro (+1,00% em Qingdao). Outro segmento de peso que vinha esboçando alguma reação em sessões anteriores, o de bancos, também registrou perdas nesta sessão. Assim, o principal índice da B3 fechou o dia em baixa de 0,87%, a 115.662,40 pontos, tendo oscilado entre mínima de 114.800,64 e máxima de 116.659,69 pontos.
Na semana, o Ibovespa acumula agora alta de 1,66%, praticamente o mesmo desempenho do mês (+1,67%), enquanto, no ano, o índice sobe agora 0,01%. O giro financeiro desta sessão totalizou R$ 21,6 bilhões, após ter chegado ontem a R$ 74,6 bilhões, quando foi muito reforçado pelo vencimento de opções e futuros sobre o índice.
Após uma sessão moderadamente negativa nos mercados da Europa, Nova York chegou a operar sem direção única, mas acabou fechando no vermelho, com os três índices, especialmente S&P 500 e Nasdaq, ainda bem perto das máximas históricas de encerramento renovadas ontem, apesar de certo recrudescimento dos temores em torno do coronavírus, depois de a China ter efetivado mudança na metodologia de diagnóstico e na contagem dos casos no país (em alta).
“A China sempre foi um fator de preocupação em relação à transparência de dados, e isso se aplica agora à situação tanto do ponto de vista da doença como dos efeitos sobre a atividade econômica. O que temos de informação é o que chega deles”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. Soma-se à incerteza do coronavírus e dos respectivos efeitos sobre a economia global uma agenda doméstica enfraquecida no Brasil, com dados que não têm se mostrado muito inspiradores e um Congresso em lenta retomada, após o recesso.
Tendo chegado a operar na faixa de 112 mil pontos no início da semana, o Ibovespa vem convergindo, entre idas e vindas, para os 115 mil pontos, praticamente conservando o nível do fechamento de 2019, ano em que o Ibovespa acumulou progressão de 31,58%. O padrão para 2020 é de maior volatilidade, o que testará a resiliência dos investidores domésticos, que têm carregado o Ibovespa nos ombros, com os estrangeiros ainda em fluxo negativo. Para Vieira, ainda que o ajuste no Ibovespa se prolongue, o índice permaneceria em “zona de conforto” até os 110 mil pontos.
“A Bolsa ficou mais barata em dólar, mas nem isso atrai o estrangeiro – com Nova York nas máximas -, porque a dúvida entre eles, pelas conversas que temos, é até onde a moeda pode ir por aqui. Não há muita clareza quanto a isso”, diz Vieira. Hoje, o Banco Central atuou no câmbio, por meio de operações de swap para ancorar o mercado futuro da moeda, em dia no qual o dólar chegou à marca de R$ 4,3830 na máxima da sessão, em novo pico histórico intradia. Depois da iniciativa do BC, o dólar se acomodou à faixa de R$ 4,33 a R$ 4,34, encerrando aos R$ 4,3339, em baixa de 0,39% na sessão.
“Não vejo o BC entrando forte para derrubar moeda, mas sim uma intervenção pontual como a de hoje, em swap, após o dólar ter andado muito. O dólar forte reflete a economia dos EUA e o apelo dos ativos americanos, enquanto, por aqui, a situação é ainda fraca”, avalia Luis Sales, analista da Guide Investimentos. “Assim, o Ibovespa hoje foi o que temos visto recentemente: cautela em meio a um cenário ainda conturbado, no qual a aversão a risco favorece uma realização de lucros em setores à medida que têm algum avanço, como vimos hoje em commodities e bancos”, acrescenta.
Por Luís Eduardo Leal
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