Afetada pela paralisação de operações em decorrência do desastre com sua barragem em Brumadinho, Minas Gerais, a Vale viu sua produção de minério de ferro encolher 21,5% em 2019, para 301,97 milhões de toneladas. No quarto trimestre, a mineradora produziu 78,344 milhões de toneladas, queda de 22,4% em relação ao reportado um ano antes.
Em relatório divulgado nesta terça-feira, 11, a Vale manteve a estimativa de produção entre 340 milhões e 355 milhões de toneladas para 2020, apesar dos possíveis impactos do coronavírus sobre a economia da China e das fortes chuvas em Minas Gerais no desempenho do primeiro trimestre.
A mineradora reconhece que os temporais de janeiro e fevereiro levaram a uma perda de cerca de 1 milhão de toneladas, devido a interrupções temporárias de produção e transporte nos Sistemas Sul e Sudeste.
As estimativas não consideram efeitos de segunda ordem da epidemia de coronavírus, diz a Vale. A companhia avalia que, no momento, os impactos do vírus “parecem ser acomodados apenas por meio de alterações de preço” e afirma que pretende reestabelecer seus estoques em 2020, mesmo com risco de menor demanda chinesa.
Em relatório, o Citi acredita que os desafios serão grandes para a companhia entregar a sua meta de produção. “Os investidores esperam que a produção da Vale esteja no limite mais baixo do guidance (projeção), por conta dos dados de embarque”, diz a análise enviada ao mercado. Anualizando a produção do quarto trimestre, a instituição financeira destaca que o volume ficaria abaixo de 320 milhões de toneladas.
Os planos da Vale antes do rompimento da barragem que vitimou 270 pessoas era atingir a marca de 400 milhões de toneladas anuais no ano passado. Com a tragédia, a mineradora teve de adiar a meta para pelo menos 2022, conforme projeções já divulgadas ao mercado.
A companhia afirma que está em conversas com a Agência Nacional de Mineração (ANM), o Ministério Público de Minas e auditorias externas em relação ao plano de retomada de capacidade produtiva de 40 milhões de toneladas de minério com as operações de Timbopeba, Fábrica e Complexo Vargem Grande. A Vale espera receber as autorizações necessárias para retomar todas essas operações até o terceiro trimestre.
O Sistema Norte segue ganhando importância no desempenho da companhia. Em 2019, a região, que engloba Carajás e S11D, respondeu por 62,5% da produção de minério de ferro da Vale. A expectativa é que o S11D, maior investimento da história da Vale, contribua com a capacidade plena de 90 milhões de toneladas de minério de alta qualidade para o volume total de produção de 2020.
Barragens.
A Vale atualizou o seu plano de descaracterização de barragens e informou que serão necessárias provisões adicionais, o que provocará um efeito líquido de US$ 671 milhões em seu balanço do quarto trimestre, a ser divulgado em 20 de fevereiro. Esse “colchão” de recursos será necessário sobretudo porque mais duas barragens e outras três estruturas serão descaracterizadas.
A descaracterização é o processo pelo qual a estrutura de uma barragem é reincorporada ao relevo original e ao meio ambiente, ou seja, tal estrutura deixa de ter características ou de exercer função de barragem.
Com os novos planos de descaracterização, as provisões relacionadas com a tragédia de Brumadinho sobem para US$ 6,7 bilhões, ressalta o JPMorgan. Em relatório, o banco destaca que os investidores já tinham a preocupação de que os gastos com a tragédia poderiam subir e, agora, com esse anúncio, a cautela será ainda maior.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Fernanda Guimarães e Mariana Durão
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