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BC deve cortar Selic para 4,25% ao ano e encerrar ciclo de quedas, dizem economistas

(Foto: Divulgação)

O Banco Central deve reduzir nesta quarta-feira, 5, a taxa Selic em mais 0,25 ponto porcentual. Com isso, os juros básicos vão renovar seu piso histórico mais uma vez, caindo para 4,25% ao ano. Daqui para a frente, o futuro é mais incerto, apesar de a maior parte do mercado contar com a sinalização do BC para o fim do ciclo de cortes da Selic, que deverá se manter estável ao longo de todo o ano de 2020.

Essa é a projeção de três economistas-chefes ligados aos principais bancos do País: Fernando Honorato, do Bradesco; Felipe Tâmega, do Itaú Asset; e a ex-secretária do Tesouro do governo Temer e atual economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi.

Em entrevista realizada na terça-feira, 4, na sede do Estado, eles representaram um grupo formado por 25 economistas-chefes ligados à Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima). Os especialistas se reúnem na semana anterior ao Copom para avaliar o cenário econômico e projetar o que o mercado espera da reunião para a Selic nos próximos 45 dias.

Juros a 4,25%
Segundos os economistas, o consenso entre seus colegas é de que os juros não devem subir ao longo deste ano, já que a inflação oficial medida pelo IPCA, por enquanto, segue “comportada”, abaixo do centro da meta de 4% ao ano estipulada pelo Banco Cental. O índice de preços deve fechar o ano na casa dos 3,5% ao ano, abaixo da meta da inflação estipulada pelo Banco Central, de 4% ao ano.

“O comitê acha que as projeções para a inflação estão baixas e podem até cair nas próximas semanas, o que poderia levar o Copom a cortar as taxas de juros”, afirma o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato. “Hoje, o consenso de mercado demonstra isso (que o BC vai cortar em 0,25 ponto a Selic). Seria absolutamente uma surpresa alguma ação diferente do BC”, avalia Ana Paula, do Santander.

A última reunião do Copom terminou no dia 11 de dezembro de 2019, com redução de 5% para 4,5% ao ano. O resultado do encontro de hoje será divulgado após as 18h.

Próxima reunião
Para Felipe Tâmega, a grande discussão do mercado, neste momento, está em torno do teor da comunicação do BC ao mercado. A instituição emite uma nota que acompanha o resultado, no mesmo dia, e uma ata, mais completa, na semana seguinte.

“Alguns economistas são hoje da opinião de que o BC deve fechar um pouco mais a porta, não significando que vai indicar já agora que novos cortes não acontecerão. Outros membros estão achando que essa porta ficaria um pouco mais aberta, dando um pouco mais de flexibilidade para quando da reunião seguinte do BC”, destaca. Os três economistas ouvidos pelo Estado, porém, esperam apenas um corte de Selic em 2020, o que estacionaria a taxa em 4,25% ao ano.

Churrasco salgado
A disparada no preço das carnes no fim de 2019 impulsionou a inflação oficial no País. O IPCA fechou o ano em 4,31%, um pouco acima da meta de 4,25% perseguida pelo Banco Central. A inflação de dezembro subiu 1,15%, maior alta para o mês desde 2002.

Ana Paula, contudo, não espera o carregamento dessa pressão inflacionário proveniente da carne para os dados oficiais de 2020. Segundo ela, isso ficou para trás. “O que observamos é que esse choque (de preços) ficou muito bem concentrado entre novembro e dezembro (do ano passado) e os preços já voltaram em janeiro. É como se tivesse antecipado esse choque inflacionário de 2020 para 2019, trazendo um cenário mais benigno para 2020”, afirma.

Os economistas dizem esperar uma inflação de 3,5% para o ano, abaixo da meta de 4% do BC, e com possibilidade de queda para os próximos meses. “Em dezembro, projetávamos 3,6% de inflação para 2019. Agora, em janeiro, ficou em 3,5%. Quer um palpite? Se as coisas caminharem do jeito que estão caminhando, é possível que tenhamos mais uma revisão na projeção de inflação pelo tom geral”, afirma Honorato.

Coronavírus e reformas
Sobre a crise desencadeada pelo novo coronavírus, que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar emergência de saúde pública global, eles afirmam que, por enquanto, os impactos estão mais restrito à China, onde a epidemia teve início. Questões como guerra comercial, eleições presidenciais nos Estados Unidos e o Brexit seguem monitoradas.

No cenário interno, os economistas surpreendem ao afirmar que o cenário segue mais tranquilo. “A gente costuma dizer que a reforma da Previdência era a reforma da vida ou morte. As demais reformas são cruciais para o equilíbrio financeiro, mas são reformas que o mercado não colocou 100% no preço, que não são indispensáveis para o País crescer 2% ao ano”, diz o economista-chefe do Bradesco.

Para eles, a atenção do mercado está, sobretudo, na sinalização do governo para o ano que vem. “O que o mercado tem expectativa é de que continuemos com a agenda de reformas. Ela precisa se manter aquecida, tem de estar pelo menos caminhando”, afirma Ana Paula Vescovi.

Elevação de nota risco
Com o governo federal segurando gastos, mas principalmente recebendo pagamentos do BNDES e vendendo reservas internacionais, o endividamento do Brasil recuou em 2019 pela primeira vez em seis anos. A dívida bruta terminou o ano passado em R$ 5,5 trilhões – 75,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Para Ana Paula Vescovi, que foi secretária do Tesouro durante o governo de Michel Temer, a trajetória da dívida pública em 2019 representou uma boa notícia para o mercado, mas não há motivos para comemorar.

“Poderemos comemorar quando o Brasil tiver concluído o ajuste fiscal. Antes disso a gente tem um compromisso para chegar até lá, crível a ponto de os preços (do mercado financeiro) estarem refletindo isso”, conta.

Para Honorato, o resultado das contas públicos em 2019 já faz com que o mercado espere por um upgrade das agências na nota de risco do Brasil. “Para este ano, seria pelo menos um upgrade. Estamos três notas abaixo do grau de investimento, seria um passinho”, diz Ana Paula

Dólar a R$ 4,10
Quanto à moeda americana, que chegou a bater R$ 4,285 na semana passada, renovando as máximas históricas para a cotação do dólar frente ao real, o patamar de consenso entre os economistas para 2020 está em R$ 4,10.

Um mês e meio
A cada um mês e meio, o presidente do Banco Central (BC) e seus diretores se reúnem por dois dias para decidir os rumos da taxa básica da economia, a Selic. Essa reunião é conhecida como Copom, Comitê de política monetária do Banco Central, e o seu resultado tem grandes impactos na política econômica brasileira.

O BC tem o mandato de controlar a inflação do País. Se a economia cresce e pressiona os preços dos produtos, o Copom tende a aumentar a Selic. Se o mercado está em retração e a inflação cai ou não se mexe, o BC tende a reduzir a taxa básicas de juros.

 

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