A queda da taxa de juros para patamares históricos está transformando o mercado de crédito e de investimentos no Brasil, avaliam economistas. Em palestra no Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, associado à Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), realizada na quarta-feira, 29, em São Paulo, os economistas Roberto Teixeira da Costa, Maílson da Nóbrega e Newton Rosa destacaram os benefícios do atual patamar da Selic e os riscos desse novo mundo.
“O rápido recuo da taxa de juros pegou os brasileiros despreparados. Até então nossa cultura era de investir em poupança e renda fixa”, diz Costa, fundador e ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). De uma hora para outra, completa ele, os investidores tiveram de buscar novas formas de remunerar seu capital, elevando a procura por renda variável e aumentando o preço dos ativos. “Isso acabou gerando uma discussão sobre uma bolha especulativa.”
Na avaliação de Costa, se comparados aos ativos internacionais, o mercado brasileiro não está caro nem barato. Mas se levar em conta o patamar dos ativos de três anos atrás, está caro. Ele, no entanto, não vê com preocupação o risco de formação de uma bolha. “No passado, o estrangeiro abocanhava boa parte das emissões na Bolsa. Hoje, na busca de novas opções de investimento, é o brasileiro que tem feito esse papel”, diz ele, explicando a alta do mercado.
Processo.
Para Maílson, ex-ministro da Fazenda, o Brasil vive hoje “o admirável mundo novo dos juros baixos”, que veio para ficar. Ele acredita que esse é o resultado de um conjunto de ações que aumentou a potência da política monetária brasileira – num processo que durou 25 anos. Com os juros mais baixos, diz ele, o mercado de capitais já assume papel de provedor do crédito no País, seguindo o caminho dos Estados Unidos, onde representa 80% do crédito. Por aqui, esse número é de 30%, um grande avanço, na avaliação de Maílson. “O que ocorre hoje é algo inimaginável há cinco anos.”
O economista destaca, entretanto, que apesar de o mercado apostar em novas quedas na Selic, a taxa de equilíbrio não é de 4,25% ou 4% ao ano. “Essa é uma taxa estimulativa. Vemos a Selic em torno de 7% ao ano daqui a dois anos.”
Saudável.
Newton Rosa, economista-chefe da Sul América, concorda. Mas, segundo ele, mesmo se subir um pouco, a taxa de juros vai estimular novas captações, especialmente do setor de infraestrutura que puxará o crescimento econômico neste ano junto com o consumo das famílias.
Na opinião de Rosa, apesar da lenta retomada da atividade econômica, o movimento de agora é mais saudável. “Antes a economia voltava mais rápido a base de mais gasto público. Hoje vemos um padrão novo de crescimento, baseado na volta do emprego e do consumo das famílias.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Renée Pereira
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