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Brasileiros no Japão relatam restrição à compra de máscaras e álcool em gel

Com a expansão do coronavírus para 20 países, governos adotaram medidas de segurança para tentar conter a doença e a população intensificou certas precauções. No Japão não é diferente. Mesmo antes do surto, já era comum japoneses – principalmente idosos e crianças – saírem de casa com máscaras cirúrgicas para se protegerem de doenças transmitidas principalmente no inverno. Alguns mantêm o hábito até no verão, tirando o acessório na rua apenas para comer ou beber. Com o coronavírus, os cuidados foram redobrados.

Brasileiros que moram no país asiático relataram o medo provocado pelo vírus, que matou ao menos 213 mortes na China e deixou outras 10 mil infectadas pelo mundo. No Japão, já há registro de onze casos. O receio fez, pela primeira vez, máscaras sumirem de boa parte das prateleiras de estabelecimentos japoneses.

“No Japão, é um costume antigo usar máscaras cirúrgicas, porque há muitas doenças infecciosas transmitidas principalmente no inverno, mas nunca tinha visto faltar o acessório. Esta é a primeira vez. Eu tenho em casa, porque criei o hábito de também usar. As pessoas estão com muito medo da doença”, disse Paulo Henrique Martinez, de 36 anos, que mora no Japão há 30 anos. Atualmente, ele vive em Toyohashi, que fica a 300 quilômetros de Tóquio, a capital do país.

Ainda não há registro de casos suspeitos na cidade onde Martinez mora, mas os cuidados já estão sendo adotados pelos habitantes. Ele relata que nas fábricas muitas pessoas também estão usando máscaras. “Não é obrigatório, mas muita gente já adotou. E algumas empresas mandaram os funcionários trabalharem em casa pelas próximas duas semanas.”

Martinez ainda não pensa em retornar ao Brasil por causa do coronavírus. “Estou acompanhando todos os procedimentos de segurança adotados. Por enquanto, permanecerei aqui”, diz.

Em Nagoya, capital da região metropolitana da província de Aichi, que fica a 354 quilômetros de Tóquio, o temor também já está presente, mesmo sem registros de casos suspeitos.

“Nesta semana, só pude comprar oito unidades de máscaras e uma embalagem pequena de álcool em gel. A restrição existe porque a demanda cresceu muito e em muitas lojas já não se acha mais os produtos. Muita gente também está comprando termômetro”, contou Lígia Silvate, que mora no Japão há seis meses e trabalha em uma fábrica de autopeças.

Nos últimos dias, poucas pessoas têm saído de casa. Por volta do meio-dia desta sexta-feira, 31, (horário do Japão), poucas pessoas eram vistas nas ruas. “Até fiquei surpresa, mas dá para perceber que muitas pessoas estão usando máscaras para se protegerem, até dentro dos supermercados”.

Lígia trabalha com muitos brasileiros, peruanos e filipinos. “Todos estão com receio da doença. Nas fábricas orientaram a usar máscaras e lavar sempre as mãos.”

No Japão, o pacote com máscaras brancas feitas de fibra (com oito unidades) custa 218 ienes, cerca de R$ 8,50. Já o pacote com máscaras pretas feitas de fibra e com forro (com cinco unidades) sai por 560 ienes, pouco mais de R$ 22. Segundo as recomendações, ambas as máscaras devem ser descartadas após o uso.

“O uso é comum para se proteger de viroses e também para evitar passar doenças para os outros”, disse Lígia. Ela também não pensa ainda em retornar ao Brasil por causa do vírus. “Vou permanecer no Japão por enquanto. Estou acompanhando as ações adotadas pelas autoridades, mas observo que ainda não há motivo para pânico.”

Novos casos

Novos casos da doença indicam a transmissão do novo coronavírus fora da China. Um motorista de ônibus turístico que mora na cidade de Nara, que fica a 472 quilômetros de Tóquio, foi diagnosticado com o vírus. Segundo o ministério da Saúde japonês, ele teve contato com um grupo de visitantes vindos de Wuhan entre os dias 8 e 16 de janeiro. O homem, de 60 anos, começou a manifestar sintomas da doença no dia 14 de janeiro e foi hospitalizado 11 dias depois. O Japão é considerado um dos principais destinos dos chineses no feriado do ano novo chinês.

Outros dez japoneses que estiveram em Wuhan, capital da Província de Hubei, epicentro da disseminação dos casos, foram diagnosticados com a doença.

Lígia e Martinez relatam ainda que é grande o preconceito contra os chineses. “Há muita discriminação, os japoneses não querem os chineses aqui”, afirma Martinez. “Até nas lojas dá para perceber que há preconceito, pois acham que os chineses são os responsáveis pelo surto.”

Atenção redobrada

Nos hospitais e nos aeroportos japoneses, a atenção foi redobrada. “Já estão medindo a temperatura dos passageiros que desembarcam nos aeroportos japoneses. A situação é grave, mas ainda não há pânico”, disse Martinez.

Em Tóquio, os hospitais já estão preparados para receber pacientes com suspeita da doença e realizar exames para detectar o coronavírus.

O Hospital Ebara instalou 11 leitos em salas de pressão negativa, que apresentam menor pressão atmosférica para evitar vazamento de ar. O governo metropolitano de Tóquio decidiu transportar pacientes que estejam com suspeita da doença para o Hospital Ebara, o Hospital Toshima, o Centro Metropolitano de Câncer e Doenças Infecciosas de Tóquio, o Hospital Komagome e o Hospital Metropolitano de Tokyo Bokuto.

Por Renata Okumura

Estadão Conteúdo

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