O número de pessoas que vivem nas ruas da cidade de São Paulo saltou de 15 mil para 24 mil no período de 2015 a 2019, de acordo com o novo Censo da População em Situação de Rua realizado pela Prefeitura, cujos dados parciais foram apresentados nesta quinta-feira, 30. Lideranças ligadas a essa população questionam a metodologia utilizada e dizem que o número pode ser maior. Até o momento, a Prefeitura não se manifestou sobre as críticas.
O aumento de 60% dessa população está relacionado, segundo o levantamento, com a crise econômica, desemprego, conflitos familiares, questões relacionadas à moradia e o uso abusivo de álcool e drogas. A gestão municipal informou que os dados completos serão divulgados nesta sexta-feira, 31.
Vigário episcopal para a Pastoral do Povo de Rua, o padre Julio Lancellotti, diz que o levantamento não mostra a real quantidade de pessoas que moram nas ruas da capital.
“O censo teve problemas metodológicos. Usaram o mesmo itinerário do censo anterior. Dessa forma, não levaram em conta as mudanças da população de rua de 2015 para 2019. O CadÚnico da Prefeitura tem 30 mil pessoas em situação de rua cadastradas. Como deu 24 mil?”, questiona.
Coordenador estadual do Movimento Nacional da População de Rua, Edvaldo Gonçalves de Souza concorda com a avaliação e diz alguns pontos foram visitados durante a madrugada, quando estavam esvaziados. “A política pública trabalha em cima de dados. Se não tiver uma coisa certa, não vão fazer a política ideal para a rua.”
Segundo ele, a crise e o desemprego têm feito com que mais pessoas cheguem à situação de rua. “Muitas famílias estão indo para as ruas por causa do desemprego. Antes, a gente via mais solteiros. As pessoas precisam saber que não é só analfabeto que está na rua. Pessoas de vários segmentos profissionais ficaram nessa situação por problemas com a família, porque saiu de uma cidade para tentar uma vida melhor. Também tem a chegada de imigrantes.”
Souza diz que a questão é complexa e precisa de uma ação envolvendo diferentes secretarias. “A política tem de ser intersetorial. Tem de ter trabalho, saúde, moradia, porque nossa bandeira não é por abrigo, mas por moradia. A pessoa tem dificuldade de conseguir emprego quando apresenta o endereço do abrigo. A rua é uma fábrica de doenças, não só físicas, mas psicológicas. E deveria fechar uma parceria para ter vagas para essa população.”
Ações devem priorizar desenvolvimento de autonomia
Presidente da Associação de Resgate à Cidadania por Amor à Humanidade (Arcah), instituição que realiza ações para reintegração da população de rua à sociedade, Rodrigo Leite destaca que os trabalhos com essa população devem priorizar a conquista da autonomia.
“Faltam programas com foco na geração de renda, reintegração social, retomada dos vínculos afetivos e capacitação sociocomportamental e socioemocional. É importante ter essa visão integral. Claro que a geração de renda é fundamental, mas é preciso dar prioridade a outras esferas.”
Ajuda para moradores de rua pode ser acionada por meio do 156
A população também pode ajudar as pessoas em situação de rua solicitando uma abordagem social por meio da CPAS, que funciona 24 horas por dia e pode ser acionada pela Central 156.
A solicitação pode ser anônima, mas é importante ter as seguintes informações para facilitar a identificação:
– O endereço da via em que a pessoa em situação de rua está (o número pode ser aproximado);
– Citar pontos de referência;
– Características físicas e detalhes de como a pessoa a ser abordada está vestida.
Por Paula Felix
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