Os juros futuros começaram a tarde pressionados pelo aumento do estresse no câmbio e do temor sobre a disseminação do coronavírus e seus impactos sobre a economia global, renovando máximas em sequência em vários pontos da curva. Ao longo da tarde, porém a pressão perdeu força, na medida em que o dólar voltava das máximas acima de R$ 4,27 atingidas mais cedo, e as taxas encerraram o dia perto dos ajustes anteriores. Desse modo, a influência negativa do exterior acabou se sobrepondo ao noticiário interno positivo, que teve o IGP-M de janeiro abaixo da mediana das estimativas, anúncio de redução no preço de combustíveis pela Petrobras e declarações otimistas dos presidentes da Câmara e Senado sobre as reformas.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 encerrou em 4,360% (regular) e 4,355% (estendida), de 4,340% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 passou de 5,491% para 5,50% (regular e estendida). A taxa do DI para janeiro de 2025 fechou em 6,20% e 6,21%, a regular e estendida, de 6,181% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 encerrou em 6,59% (regular e estendida), de 6,581%.
Na ponta curta, a tensão do câmbio poluiu um pouco o quadro de expectativas para a Selic na curva a termo, mas a aposta de corte de 25 pontos-base na reunião da semana que vem continua sendo majoritária. “As taxas estão abrindo em cima do dólar. O estresse na moeda que está afetando apostas de curto prazo diminuiu um pouco a probabilidade de corte em fevereiro”, disse o trader da Quantitas Asset Matheus Gallina. Segundo a instituição, a precificação de Selic para o próximo Copom mostra que a chance de redução de 0,25 ponto porcentual caiu de 79% para 75% entre ontem e hoje.
Ao longo do dia, a epidemia do coronavírus seguiu como principal foco de atenção do investidor – e a cada nova informação negativa a aversão ao risco foi crescendo. Nos juros, as taxas já subiam de manhã e renovaram máximas no começo da tarde, acompanhando a escalada do dólar, com o mercado elevando as apostas de que a Organização Mundial da Saúde decretaria o surto como “emergência global de saúde pública”, o que acabou se confirmando no fim da tarde. Porém, o órgão descartou recomendações de restrições a comércio ou viagens, inclusive à China.
Do ponto de vista da curva de juros, a percepção é de que as taxas têm reagido de forma até comedida à tensão com o coronavírus em comparação aos demais ativos, uma vez que o efeito da piora do câmbio sobre os DIs é, em boa medida, compensado pelo aumento da possibilidade da adoção de estímulos monetários pelos bancos centrais, o que abriria espaço para a continuidade do ciclo de afrouxamento no Brasil. “Mesmo com todo o estresse do coronavírus, temos apenas algumas correções. As taxas seguem perto das mínimas históricas”, disse Cassio Andrade Xavier, trader da Sicredi Asset. Ele relata que, a partir do trecho intermediário, a curva tem desinclinado nos últimos dias, com muita “compra de DI janeiro de 2022 com venda de janeiro de 2027”.
Por Denise Abarca
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