O presidente da Verde Asset Management, Luis Stuhlberger, disse nessa quarta-feira, 29, que o mercado está empurrando o Banco Central a cortar novamente os juros e, neste momento, “é quase certeza” que a taxa será reduzida para 4,25% ao ano na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, na semana que vem. “Embora eu esteja posicionado contra isso”, disse, ao falar que a instituição deveria ter parado de cortar as taxas em 4,75%.
“Muitas assets (gestoras de investimentos) ganharam muito dinheiro no pré-curto. O mercado está forçando o BC a cortar mais”, disse, em evento do banco Credit Suisse, ressaltando que, mesmo dentro da Verde, há divergências sobre os próximos passos do BC.
Para Stuhlberger, o mercado reforçou as apostas em corte de juros ao observar hoje, nos índices de preços, os núcleos muito baixos e a inflação de serviços comportada. Além disso, o teto de gasto e a reforma da Previdência trouxeram “conforto fiscal”. Ainda com a elevada capacidade ociosa e o desemprego alto, a sinalização, segundo ele, é de que não haverá pressão inflacionária.
O gestor, contudo, alerta para riscos a esse cenário. “Acho que a inflação pode ter não linearidade em algum momento, do mesmo jeito que aconteceu com o câmbio”, disse, ao justificar sua visão de que o BC deveria ser mais cauteloso.
“O câmbio está 5% acima do nível do que é razoável.” Modelos da Verde apontam o preço justo da moeda americana ao redor de R$ 3,98. Ao mesmo tempo, Stuhlberger não vê espaço para melhora mais forte do real, porque o investidor estrangeiro está fora do mercado, as exportadoras estão retendo recursos lá fora e empresas estão trocando emissões em dólar por real.
Os juros muito baixos no Brasil criaram “os órfãos do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro)”, disse Stuhlberger, ressaltando que ele mesmo é um deles. Por isso, os investidores têm procurado aplicar na Bolsa e as gestoras estão criando “dois, três” fundos de ações ou multimercados por semana para permitir isso. “No Brasil, existe efeito bolha na Bolsa”, afirmou, ressaltando que ele próprio está comprado em ações.
Crescimento global menor.
Stuhlberger disse também que a economia mundial está estruturalmente com menos crescimento, mas com a vantagem de inflação baixa, o que permite juros menores. Segundo ele, se o evento que está sendo realizado agora tivesse ocorrido em dezembro, riscos como o coronavírus e a questão do Irã não estariam no radar. “São riscos que aparecem que nunca imaginamos”, disse, mencionando que são assuntos de gravidade, mas que podem balançar o mercado por pouco tempo.
“Esses ruídos no mercado não duraram uma semana. Mercado balançou uns dias e depois voltou”, disse ele, ressaltando que a China tem tratado a questão da doença no “estilo chinês”, ou seja, isolando uma cidade enorme.
Já a Europa pode precisar mudar seu modelo de crescimento, pois a região está “permanentemente com problema de crescimento gravíssimo”. “Talvez o modelo esteja terminado, vai ter de fazer uma outra coisa”, disse o gestor. Pelo lado positivo, a questão fiscal da região está menos negativa que em outras. “Déficits crônicos estão bastante controlados.”
Eleição nos Estados Unidos.
Para Stuhlberger, o mercado financeiro trabalha hoje com chance zero de o pré-candidato democrata Bernie Sanders derrotar o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na eleição americana de novembro. Já uma vitória de Joe Biden, que foi vice-presidente na gestão de Barack Obama, não seria um problema, pois ele é visto como democrata não socialista, ao contrário de Sanders.
“Sanders não tem muita chance em nível nacional”, disse Stuhlberger, ao comentar as perspectivas para a eleição americana. Na avaliação dele, mesmo não ganhando, Sanders pode fazer “certo estrago nas finanças públicas americanas”, pois pode forçar Trump a fazer concessões e adotar medidas como cortes de impostos.
“A plataforma democrata será mais gastos com saúde e corte de impostos para pessoas físicas”, disse o gestor. “Mas os Estados Unidos hoje arrecadam muito pouco”, completou, ressaltando que a carga tributária total no país é ao redor de 30% do Produto Interno Bruto (PIB), o que é um “número baixíssimo”, considerando que é a maior economia do mundo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Altamiro Silva Junior e Karla Spotorno
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