O avanço do coronavírus na China aumenta as incertezas nos mercados e prejudica a retomada do crescimento econômico em um ano iniciado de modo turbulento, com queimadas na Austrália e tensão entre Irã e Estados Unidos, diz o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. “O receio agora é que a economia mundial já está frágil e o coronavírus é mais um elemento de risco”, afirma.
O tamanho do impacto na economia, porém, ainda depende da evolução do caso, acrescenta Vale. Ele lembra que, em 2003, a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) retirou entre 0,1 e 0,5 ponto porcentual do PIB mundial. Em relação ao Brasil, ele acredita que haverá um impacto de curto prazo, na Bolsa e no câmbio, mas que os efeitos em prazos mais longos vão depender da evolução da doença, que já matou mais de 80 pessoas na China.
Qual o possível impacto nos mercados e na economia global?
Uma doença como essa pode travar viagens internacionais, negociações e expectativas de crescimento. A China é um país muito importante e está sendo muito afetada durante o ano-novo chinês, o que tem um efeito importante na economia do país. Ainda não sabemos qual a gravidade da epidemia, se vai ser parecida com a da Sars de 2003. Como está tudo muito incipiente, o clima é de incerteza.
No caso da Sars, que matou quase 800 pessoas, houve um efeito importante na economia global?
Estimativas colocam que houve diminuição do PIB global entre 0,1 e 0,5 ponto porcentual. O receio agora é que a economia mundial já está frágil e o coronavírus é mais um elemento de risco.
Havia expectativa de que o crescimento da economia global se recuperasse em 2020, após um 2019 de desaceleração. O coronavírus é uma ameaça concreta a essa recuperação?
A gente ainda está em janeiro e já teve crise entre Irã e Estados Unidos, criando a possibilidade de um conflito mais grave e aumentando a pressão no Oriente Médio. Agora o coronavírus. Isso aumenta a incerteza em nível mundial e afeta os preços dos ativos. Dados os riscos que já temos, os efeitos do Brexit, a eleição americana no segundo semestre, a situação da economia da América Latina depois de tantas convulsões no ano passado, a Austrália com queimadas muito intensas, o início de ano não está tranquilo. Para os ativos em geral, para as Bolsas, é bastante ruim, traz mais volatilidade e a taxa de crescimento da economia tende a ser menor. Quão menor vai depender de como o coronavírus evolui.
Quais devem ser os impactos no Brasil?
O câmbio e a Bolsa acabam sendo afetados mais no curto prazo. No médio prazo, vai depender da severidade da doença. Como estamos falando principalmente de China, é natural que empresas de commodities sejam afetadas. O tamanho do impacto depende de se conter a doença, o que é imprevisível. Os mercados não gostam de coisas imprevisíveis.
Bancos internacionais já consideram que a China deverá aumentar o estímulo monetário para tentar compensar os efeitos do vírus na economia. Pode-se imaginar que o Brasil tenha de adotar uma postura semelhante, dado o cenário internacional de incerteza e possíveis ameaças ao crescimento econômico?
No Brasil ainda não. Na China sim, é mais fácil acontecer. O país ainda é afetado pela guerra comercial com os Estados Unidos. Ainda há muito para ver se o acordo entre os dois países realmente vai sair do papel. Tenho a impressão de que deve haver dificuldades para o acordo acontecer. A China terá um ano difícil e o coronavírus só joga contra a perspectiva de crescimento por lá. Aqui, não tanto: a atividade está indo relativamente bem, não me parece que vai ser muito afetada por isso. A inflação está controlada e o Banco Central está tranquilo para baixar juros. A princípio a taxa de juros vai para 4,25% e eventualmente teria espaço para queda adicional. Mas isso (um corte para 4%) ocorreria mais pelo cenário interno.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Luciana Dyniewicz
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