O mercado de trabalho, que ainda se recupera timidamente, reage de diferentes formas pelo interior do País. Enquanto as cidades ligadas ao agronegócio e à mineração viram o emprego voltar, nas mais dependentes de grandes projetos de infraestrutura e de setores em situação crítica, como a indústria naval, a crise não passou.
Pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado na última semana pelo Ministério da Economia, o Brasil gerou 644 mil vagas com carteira em 2019.
Enquanto quatro regiões se dividem entre as maiores geradoras de emprego, o Nordeste tem cinco das dez cidades que mais perderam vagas.
As duas maiores cidades brasileiras tiveram destinos opostos em 2019. Enquanto o saldo de empregos formais (a diferença entre postos abertos e fechados) foi positivo em 80,8 mil vagas em São Paulo, o Rio de Janeiro encerrou o ano com saldo negativo de 6,6 mil postos. A capital paulista foi beneficiada por resultados melhores na construção civil, intensiva em mão de obra, mas os cariocas sofrem com a falta de investimentos.
Fora das capitais, Barueri (SP) foi um dos destaques positivos de 2019. A cidade ficou na sexta posição entre as que mais geraram postos: foram 7,5 mil a mais, sobretudo pela atração de prestadoras de serviços que se mudaram de cidades da região.
Já a pequena Parauapebas, no sudoeste do Pará, também está entre as dez campeãs do emprego formal, com 5,7 mil novos postos. A região foi beneficiada por um novo projeto da Vale, de uma planta de beneficiamento de cobre. Este ano, devem ser empregadas 3 mil pessoas.
Ano ruim
Longe dali, a pernambucana Ipojuca, na região metropolitana do Recife, teve um 2019 difícil. No ano passado, o estaleiro Atlântico Sul praticamente suspendeu as atividades e não tem encomendas de novos navios prevista. A estimativa é que só o setor de material de transporte tenha fechado 2.284 vagas e aberto só 20.
O eletricista Marcilio José Elias, de 35 anos, é um dos que sentiram a queda do emprego na cidade. Ele, que ganhava R$ 1.500 por mês, hoje sobrevive de bicos e lamenta a falta de emprego fixo. “Não consigo enxergar uma melhora. Aqui, nós temos o Complexo de Suape com fábricas instaladas, mas não há políticas públicas para que as pessoas tenham capacitação.”
Segundo o governo de Pernambuco, foram tomadas medidas para amortecer a perda de empregos na região, que devem surtir efeito no médio prazo. “Ao todo, 120 empresas foram atraídas ao Estado e há expectativa de gerar ao menos 22 mil empregos nos próximos anos.”
Já no Rio Grande do Sul, Candiota sofreu após a conclusão das obras da usina termoelétrica Pampa Sul. No ano passado, foram fechadas 2,4 mil vagas, o pior desempenho entre todos os municípios do sul do País. De acordo com a prefeitura, muitos trabalhadores ocupavam postos temporários.
Vitória do Xingu (PA) também sentiu o crescimento acelerado, com a abertura de vagas temporárias. A cidade dobrou de tamanho na última década com as obras da Hidrelétrica de Belo Monte. Após idas e vindas, a última das 18 turbinas foi ligada em novembro. Com o fim da obra, a cidade perdeu 1,9 mil postos. Segundo a Norte Energia, a usina conta com 2 mil trabalhadores.
“Foi a melhor notícia que tive”
Sônia Maria de Souza Silva, de 48 anos, pôde se recolocar no mercado de trabalho, após um ano e meio de espera. Moradora de Dourados (MS), a historiadora trabalhava na área administrativa de uma empresa, que fechou as portas pouco após ela ser demitida.
Sem emprego, ela tentou montar um bistrô, mas o negócio não foi para frente. No período em que ficou desempregada, acumulou dívidas. “Foi um dos piores momentos da minha vida. Tive de pedir dinheiro emprestado, contraí dívidas no banco e passei dificuldades. Foi muito constrangedor”, diz.
Na mesma época, ele teve de ajudar uma das filhas, que adoeceu e ficou sem trabalho. “Foram quatro meses de espera por uma cirurgia. Minhas outras duas filhas também dependem de mim. Sobrevivemos com o pouco dinheiro que meu marido ganhava, como mecânico de carros autônomo”, revela.
Hoje, Sônia respira mais aliviada. No início do mês de novembro passado, conseguiu uma vaga de vendedora numa loja de calçados. “Foi a melhor notícia que eu tive. Pude voltar a ter esperança. Hoje, a expectativa é de melhorar de vida.”
Ela conta que agora dá até para sonhar em exercer a sua profissão. “Me formei em 2000 em história e cheguei a trabalhar por oito anos dando aulas em escolas particulares. Depois da crise, fui para o emprego que apareceu. Com as coisas melhorando, dá para voltar a acreditar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Douglas Gavras e Valéria Araújo, especial para a AE, com colaboração de Vinicius Brito
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