O potencial técnico de geração de energia eólica do Brasil no mar é de 700 GW, segundo um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. O documento foi elaborado após seis processos de licenciamento ambiental para a construção de usinas eólicas no mar (eólicas offshore) terem sido abertos no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), todos em fase de licenciamento prévio.
Segundo o presidente da EPE, Thiago Barral, o estudo Roadmap Eólica Offshore Brasil, publicado ontem (23), é o “documento mais completo, sob o ponto de vista de planejamento”, sobre essa fonte de energia produzida no mar feito no Brasil.
Segundo Barral, a EPE percebeu que havia lacunas de informação sobre as eólicas offshore e barreiras para que essa fonte de energia se apresentasse de forma competitiva no Brasil. O mapa se baseia em experiências no exterior, em especial na Alemanha, Reino Unido e China e aponta onde estão as barreiras e as possíveis linhas de ações para remover essas dificuldades. “Um raio X de onde estamos e para onde podemos ir”, disse Barral. O próximo passo será identificar os investidores públicos e privados que podem desenvolver essas ações.
O estudo da EPE apurou que quanto mais distante e mais profundo, maior é o potencial técnico de geração de energia eólica no mar e maior também o custo associado. Embora alguns países estejam explorando energia eólica a profundidades maiores, o mapa indica que a tendência é por profundidade da lâmina d’água de 50 metros. Nesses locais, o potencial técnico é de 700 GW.
O principal local para a instalação de eólicas no mar no Brasil é o Nordeste, com 68% de potencial de aproveitamento dos ventos no mar. A Região Sul também apresenta potenciais positivos, bem como o Sudeste, disse Barral.
Dos seis projetos com pedido de licenciamento prévio no Ibama, três mostram potencial de geração de 3 GW cada. São o Complexo Eólico Marítimo Jangadas, no Ceará; o Complexo Eólico Maravilha, no Rio de Janeiro; e o Complexo Eólico Marítimo Águas Claras, no Rio Grande do Sul, todos da empresa Neoenergia.
Barral explicou que, da mesma forma que ocorreu na Europa, o interesse pela energia eólicas no mar está relacionado à busca de fontes renováveis para substituir os combustíveis fósseis, além da cadeia produtiva e da demanda crescente de energia. “A busca por fontes que não agravem problemas de poluição”, disse.
Segundo o presidente da EPE, os custos para instalação de usinas eólicas no mar são mais elevados. Envolvendo distância, profundidade e tipo de fundação, entre outros fatores, no exterior, esses custos variam entre US$ 2 mil e US$ 6 mil por quilowatt (kw). Em moeda nacional, o investimento oscila entre R$ 8,7 mil e R$ 15,8 mil por kw, baseado na referência internacional. Em terra, o custo de implantação de uma usina eólica é de R$ 4 mil por kw. A capacidade instalada hoje das eólicas em terra é de 15 GW, informou o presidente da EPE.
Barral explicou que um fator que eleva o custo é a conexão com o sistema na costa e sua integração com o sistema interligado. Outros problemas envolvem a adaptação da indústria nacional para atender à eólica offshore em termos de escala, ou seja, da maior dimensão para os equipamentos atualmente usados nas usinas em terra, a infraestrutura dos portos e embarcações para atender à demanda das eólicas offshore, assunto que poderá envolver a Marinha.
O presidente da EPE enxergou como positiva a abertura de consulta pública pelo Ibama sobre o licenciamento ambiental para essas usinas, tendo em vista o ineditismo no Brasil desse tipo de investimento. Ele avaliou que o fato de estarem no mar, a princípio, não traz nenhuma questão que não possa ser superada, mas admitiu que, como se trata de zonas costeiras que são mais populosas, poderá haver conflitos com outras áreas, como o turismo, mas que devem ser superados.
Para Barral o ideal é que as eólicas no mar se integrem aos mecanismos aplicados às demais fontes de energia. Em relação ao arcabouço regulatório para dar segurança jurídica para o desenvolvimento de projetos offshore, ele indicou a necessidade de se trabalhar para aperfeiçoar a legislação. O modelo deve privilegiar a livre iniciativa.
Em razão do complexo logístico, o tempo de construção dessas usinas eólicas no mar pode se estender de dois a três anos e meio, com base na experiência internacional. Nas eólicas onshore (em terra), o prazo de conclusão é de um ano. Barral acentuou que a intenção do estudo é iniciar a discussão sobre o tema. “A ideia é dar uma contribuição, mostrando que é viável, apesar da complexidade”. Ele acredita que as eólicas no mar são uma “possibilidade que pode surgir em um horizonte não muito distante”.
O trabalho contou com parceria da Marinha, do Ibama e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e teve apoio do Banco Mundial (Bird), da agência de cooperação alemã e da Embaixada Britânica.
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