Só metade das negociações salariais que foram feitas no ano passado teve algum reajuste real, acima da inflação, para os trabalhadores. É o que apontam os dados do Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Um ano antes, em 2018, a proporção de reajustes reais era de 75,5%.
O desemprego elevado, a inflação mais alta e a subutilização da força de trabalho têm reduzido a pressão sobre reajustes salariais. Segundo entidades de classe, isso também é um reflexo da reforma trabalhista, de 2017, e a perda de poder de barganha explicaria a estagnação no reajuste de salários.
Reginaldo Tomás, de 47 anos, é motorista – uma das 20 categorias que não tiveram perdas ou ganhos em 2019, eles só “empataram” com a inflação. “As coisas estão melhorando, mas não tem tanto trabalho quanto antes. Poderia estar ganhando mais, mas com esse desemprego, a gente até evita reclamar.”
No ano passado, quem trabalha no agronegócio da cana-de-açúcar teve reajustes salariais que acabaram perdendo para a inflação, com uma queda real de 1,07%. Em seguida, vêm os empregados domésticos (0,44%) e os profissionais de lavanderias e tinturarias (0,11%).
Esses cálculos consideram a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que ficou em 3,4%, em 12 meses até dezembro.
De 49 categorias analisadas, 25 tiveram ganhos reais. Os maiores foram para funcionários de condomínios, de 1,08%, e de limpeza urbana (0,7%).
O coordenador do projeto Salariômetro e professor da Universidade de São Paulo, Hélio Zylberstajn, diz que o principal fator que explica os reajustes mais baixos foi o aumento da inflação no ano passado. “No Brasil, existe uma cultura arraigada de que repor a inflação é direito do trabalhador. Nesse contexto de economia fraca, as empresas acabam conseguindo só repor a inflação do período.”
Para este ano, segundo o economista, os reajustes devem voltar a ficar acima da inflação só a partir de abril. “Em 2020 deve ocorrer o mesmo que em 2019: poucos aumentos reais.”
Reforma.
O número de acordos e convenções caiu quase 16% depois da reforma trabalhista, no fim de 2017. Naquele ano, foram concluídas 34,8 mil negociações, ante 29,4 no ano passado, pelos dados preliminares da Secretaria do Trabalho.
Com a reforma, o negociado passou a prevalecer sobre o legislado, quando consideradas as hipóteses previstas na própria legislação. Também houve uma flexibilização quanto à possibilidade de negociação entre empregado e empregador.
Em 2018, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que os sindicatos haviam perdido 1,5 milhão de filiados após as mudanças na legislação.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Douglas Gavras
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