De vilãs do mês a heroínas do dia, as ações de bancos, muito descontadas, foram o fator decisivo para impulsionar o Ibovespa a novas máximas históricas, no intradia e no fechamento, pulverizando marca que havia sido renovada na segunda-feira e elevando-o, agora, acima dos 119 mil pontos. O principal índice da B3 fechou a sessão em alta de 0,96%, a 119.527,63 pontos, tendo alcançado os 119.534,80 pontos na máxima, superando ambas, com folga, o recorde anterior, de 118.861,63 pontos, atingido no fechamento do dia 20.
O giro financeiro totalizou R$ 25,3 bilhões, com o Ibovespa acumulando agora ganho de 0,89% na semana e de 3,36% no mês. “As ações de bancos estavam muito atrasadas, então é natural que tenham liderado o dia, pelos descontos que oferecem”, diz Ari Santos, gerente da mesa Ibovespa da Commcor, acrescentando que, pelo peso que o segmento possui no Ibovespa (24%), o índice tende a chegar aos 122 mil pontos se as ações de bancos neutralizarem as perdas no ano que acumulam até o momento.
Segunda maior alta do dia na carteira teórica, Banco do Brasil ON subiu hoje 5,62%, cedendo, no entanto, 2,54% este ano. Itaú Unibanco PN avançou nesta quinta-feira 2,37%, acumulando agora perda de 6,97% em janeiro, enquanto a unit do Santander ganhou hoje 1,96%, perdendo ainda 5,96% no mês. Hoje, a preferencial do Bradesco fechou em alta de 2,64% no fechamento, mas ainda acumulando perda de 4,27% no mês.
As perdas significativas acumuladas pelo segmento no mês levaram mesmo tesourarias de bancos estrangeiros a comprar ações de bancos brasileiros nesta sessão, apontam operadores. Assim, com apoio estrangeiro, o Ibovespa conseguiu se desgarrar do exterior, ainda contido pelas preocupações sobre o coronavírus, em meio a cerco crescente para evitar a disseminação da doença pela China e fora do país.
As commodities, como minério de ferro e petróleo, foram pressionadas abaixo, afetando em especial as ações da Vale, que fecharam em baixa de 1,42%, ante os temores sobre a segunda maior economia, grande consumidora de insumos. Apesar de nova queda acentuada do Brent (-1,85%), a ação da Petrobras conseguiu mudar de sinal e fechar o dia em alta, com a preferencial a +1,06% e a ON a +0,68% no encerramento, em dia no qual a empresa anunciou cortes de preços nas refinarias para a gasolina (-1,5%, em média) e o óleo diesel (-4,1%).
Embora não tenha trazido elementos novos, a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, em Davos, foi monitorada. Ele reiterou o compromisso com a progressão das reformas no Brasil, o que contribuiu para a indução de compras de ações, em momento no qual os agentes aguardavam novos sinais de Brasília sobre a agenda para o ano, ainda muito lenta em janeiro com o Congresso em recesso – e em ano legislativo na prática mais curto, em razão das eleições municipais.
“O dia foi de atenção aos fundamentos, com as compras sendo animadas pelo Guedes”, diz Marco Tulli, superintendente das mesas de operação da Necton, notando atuação também de estrangeiros entre os compradores. A sessão começou de forma bem ruim para o Ibovespa, espelhando o mau humor no exterior frente ao coronavírus. Com os mercados do exterior ainda auscultando os possíveis efeitos, sobre a China e a economia global, de eventual disseminação da doença, o Ibovespa começou a se descolar do mau humor ainda no início da tarde, por volta das 13h30.
Ao final, em dia negativo nos mercados europeus, os índices acionários de Nova York praticamente neutralizaram as perdas, para fechar a sessão em torno da estabilidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou hoje não haver evidências de transmissão por contato humano fora da China do novo tipo de coronavírus, que já infectou 600 pessoas no país asiático, com 18 mortes confirmadas.
Por Luís Eduardo Leal
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