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Idosos estão mais sujeitos a riscos de cerveja contaminada, dizem especialistas

Especialistas afirmam que pessoas mais velhas estão mais suscetíveis a complicações causadas pela intoxicação por dietilenoglicol, composto químico achado na cervejaria investigada em Belo Horizonte. Dos óbitos investigados, havia dois homens, de 55 e 89 anos, e uma mulher de 60 anos – existe um quarto morto de idade não divulgada. Além desses, estão sob apuração mais 14 casos de intoxicação. Os pacientes têm apresentado sintomas de insuficiência renal e lesões neurológicas.

Geriatras ouvidos pela reportagem dizem que o organismo do idoso tem mais dificuldade para tolerar efeitos da toxicidade do que um jovem. “Jovem e adulto conseguem ter mecanismos de defesa que podem ser recrutados rapidamente pelo organismo para se adaptar a um estresse físico. O idoso tem menos desses mecanismos, por isso fica em desvantagem ao enfrentar a mesma situação de risco”, explica Thaisa Segura da Motta Rosa, especialista pela Sociedade Brasileira de Geriatria.

Conforme Milton Luiz Gorzoni, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com o passar da idade, o corpo perde sua reserva funcional, ou seja, a capacidade de enfrentar nova situação de estresse. “Uma substância que o organismo jovem consegue processar e expelir sem muita dificuldade, no organismo do idoso a chance de produzir um risco adverso é bem maior.”

Segundo Gorzoni, o dietilenoglicol é um produto químico tóxico. “Qualquer uma dessas substâncias químicas pode gerar acidose e isso altera a função do coração, que pode desenvolver arritmia, produzir até parada cardíaca, além de também afetar outros órgãos e o cérebro.”

O médico explica que a função do fígado e do rim é de metabolizar essas substâncias e retirá-las do corpo. “Numa pessoa de mais idade, o rim e o fígado trabalham mais devagar, e a substância fica circulando por mais tempo, podendo lesar outros órgãos, como o coração e o pulmão. Sabemos que também o coração, depois de uma idade mais avançada, passa a ter menos músculo e fica mais sujeito a lesões que podem resultar em parada cardíaca.”

Diálise

Como não há antídoto para a substância, afirma Gorzoni, uma intervenção possível seria um tratamento de diálise para evitar o comprometimento do rim. “O problema é que, quando as pessoas apresentaram a intoxicação, ainda não se sabia a causa”, diz.

Paulo Villas Boas, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), diz que cada caso deve ser analisado com cautela. “Mesmo entre idosos há diferenças, em virtude dos diferentes graus de capacidade funcional. Se uma pessoa tem um rim a menos, via de regra, tem a capacidade funcional diminuída. Se, além disso, é idosa, o risco é ainda maior.”

Por José Maria Tomazela

Estadão Conteúdo

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