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Na mira da polícia, Belorizontina era aposta da Backer

A cervejaria Backer apostou alto exatamente no rótulo que é responsável pelo seu maior revés. A marca Belorizontina, que conforme a Polícia Civil de Minas teve pelo menos três lotes contaminados, é o carro-chefe da Backer. A cerveja suspeita responde por pelo menos 60% da capacidade de produção da empresa, estimada em 1 milhão de litros por mês. A polícia apura o elo entre a contaminação da bebida e 17 casos de intoxicação no Estado.

A Belorizontina é a grande responsável pelo salto da Backer nos últimos anos. A fábrica é hoje líder de vendas no setor artesanal no Estado. O rótulo foi criado no fim de 2017 em comemoração pelos 120 anos da fundação de Belo Horizonte. A produção inicial foi de 10 mil litros. Após pouco mais de dois anos, o meteoro Belorizontina, antes dos casos de contaminação pelo dietilenoglicol, atingia o volume aproximado de 600 mil litros, segundo estimativa do setor.

A empresa não revela dados de fabricação da Belorizontina. O preço da garrafa da cerveja nos supermercados da capital chega a R$ 5,28. Em meio às artesanais, não há nada parecido na rede varejista da cidade. O Reserva do Proprietário, outro rótulo da Backer, mais elaborado, por exemplo, custa R$ 80.

Mal começou 2020 e o cenário mudou radicalmente. O governo de Minas já registra 17 pessoas com suspeita de contaminação, incluindo um óbito. Outra morte suspeita, ainda fora do balanço da pasta, foi notificada no interior. O governo federal já fechou a fábrica e mandou recolher toda a produção desde outubro – a Backer pediu na Justiça prazo maior para essa coleta.

Nesta terça-feira, 14, a improvável mensagem veio da própria diretora de Marketing da empresa. “Não bebam a Belorizontina. Seja de que lote for”, disse Paula Lebbos, também sócia-proprietária. “Estou sem dormir. Muito triste, assustada com tudo isso. É preciso saber a verdade o mais rápido possível”, acrescentou ela, visivelmente abatida.

Dos 70 tanques da Backer, 20 foram comprados em 2019. A polícia concentra investigações em um deles, de 18 mil litros, usado exclusivamente para a Belorizontina. O equipamento tem capacidade de brassagem – a mistura colocada no tanque que, após a maturação, vira cerveja – equivalente a 33 mil garrafas.

A Backer afirma não usar o dietilenoglicol em seus processos. Estimativas do setor apontam que a Backer concentrava de 50% a 60% do mercado mineiro de cervejas artesanais, o que também não poupava a empresa de críticas pela velocidade de produção. “A pressa neste setor é inversamente proporcional à qualidade da cerveja”, diz um concorrente. A avaliação dele é que a Backer, com sua escala, já não pode mais ser chamada de artesanal.

A empresa tem 600 funcionários. Em dezembro, um deles foi demitido, ameaçou o supervisor e o caso parou até na delegacia. A polícia diz não descartar a possibilidade de sabotagem nas linhas de investigação.

O tamanho atual da equipe é bem diferente de quando o negócio, familiar, começou. Antes de se transformar em Backer, o estabelecimento fornecia chope de mesmo nome para uma casa de shows chamada Três Lobos, no início dos anos 2000. O local não existe mais.

Em 2005, os atuais donos da empresa iniciaram a produção da cerveja Backer, uma das primeiras artesanais de Minas. Hoje Três Lobos é o nome de um dos 21 rótulos da fábrica – que devem rarear em bares e supermercados, ao menos enquanto durar a investigação.

Por Leonardo Augusto, especial para O Estado

Estadão Conteúdo

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