A população que ganha até um salário mínimo é a que mais aguarda por saldões para adquirir bens de maior valor, como eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Na faixa de renda de até cinco salários mínimos, 60% afirmam que esperam os períodos de menor preço. Já entre os consumidores mais pobres, o índice sobe para 75%. Os dados são da pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta terça-feira, 14.
Para Renato Fonseca, gerente de pesquisa e competitividade da CNI, a recessão econômica e a desigualdade social acabaram favorecendo o surgimento de consumidores mais conscientes. “A necessidade faz as pessoas terem um consumo mais amadurecido, não há aquele impulso. O consumidor quer comprar logo, mas com a redução do orçamento familiar há o estímulo pelo período de promoções, como o Dia das Mães ou a Black Friday”, explica.
Na última edição da pesquisa, realizada em 2013, a média geral dos que planejam a compra era de 64%. Já em 2019, o porcentual ficou em 71%.
Os consumidores até um salário mínimo também são mais atentos nos critérios de pós-venda: enquanto 78% deles afirmam que a assistência técnica e relacionamento com a marca são fatores importantes, o porcentual é de 69% entre quem ganha até cinco salários mínimos. “As pessoas de renda mais baixa não têm muita opção, não vão poder trocar de televisão a cada dois anos, vão ter que esperar cinco ou dez anos. Eles, então, acabam prestando atenção na garantia e no serviço de manutenção”, explica.
De forma geral, a preocupação com o pós-venda aumentou entre todas as faixas de renda: passou de 65% em 2013 para 74% em 2019. Fonseca explica que a internet é uma grande aliada na pesquisa de preços e em outros critérios importantes para a decisão de compra, como comparação de características técnicas e experiência do usuário. “Há uma facilidade muito grande no acesso a comentários de outros consumidores. Eles não vão comprar nenhum produto que deu errado ou teve um pós-venda ruim. Nós começamos a ter um consumidor brasileiro mais empoderado”, afirma.
Os preços são o principal critério apontado na escolha da compra e foram mencionados por 49% dos entrevistados. Em seguida vem a qualidade, com 47% dos votos, e a preferência por marca com 34%. O fator menos relevante para os entrevistados foi a propaganda, mencionada como importante por 4%.
Pechincha
Enquanto 81% do total de entrevistados afirmou que tem o hábito de pechinchar, o porcentual cai para 73% entre a população de 16 a 24 anos. Para Fonseca, há duas hipóteses para a menor procura de preços baixos entre os mais jovens.
A primeira é de que, com maior destreza no uso do comércio eletrônico, essa faixa etária já encontre preços mais competitivos e não negocie de forma direta com os varejistas. Outra possibilidade é que o momento histórico de instabilidade de preços tenha criado o hábito com mais força entre os mais velhos. “Pode ser uma questão cultural das pessoas mais velhas, que viveram em um momento de alta inflação e eram obrigadas a sair de mercado em mercado comparando preços”, supõe.
Busca por qualidade
O principal fator de compra para os jovens é qualidade: o item foi o primeiro mencionado por 54% deles. O porcentual entre consumidores acima de 55 anos cai para 35%.
No recorte por classe social, a qualidade também é mencionada, mas de forma distinta entre as faixas de renda: enquanto os consumidores com renda de até um salário mínimo buscam melhor preço (54%) do que qualidade (38%), quem ganha até cinco salários mínimos prioriza a qualidade, com 57% da preferência contra 37% do menor valor.
“É importante que o país tenha um consumidor que exige qualidade e bom preço. Não é só comprar um bem, ele quer que o serviço seja de qualidade de forma contínua. Isso gera uma outra preocupação na própria indústria”, afirma Renato Fonseca.
A pesquisa ouviu 2 mil pessoas em 126 municípios, entre 19 e 22 de setembro de 2019.
Por Ana Luiza de Carvalho
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