O governador do Piauí, Wellington Dias (PT), é mais um dos líderes nordestinos que pregam o diálogo com atores de fora do campo da esquerda. Na sua avaliação, o PT precisa “atualizar o projeto”, uma vez que as principais demandas da sociedade já não são mais as mesmas de 30 anos atrás.
“A pauta da fome ainda existe, por exemplo, mas não é mais com a mesma demanda que tinha lá atrás”, disse ao jornal O Estado de São Paulo.
Dias lembrou da composição que levou o PT ao Palácio do Planalto pela primeira vez, em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva teve como vice o empresário José Alencar, do então PL, para defender dobradinhas que ultrapassem a fronteira das tradicionais alianças petistas.
“O que nos levou a vencer eleições como a de 2002 foi justamente a abertura ao diálogo com os diferentes. Muitos estranharam quando Lula colocou a possibilidade de ter José Alencar na sua chapa. Ali formou-se uma chapa com um líder muito legitimado pela classe trabalhadora e outro, pela classe empresarial”, afirmou.
Filiado ao PT desde os anos 1980, Dias acha “natural” o diálogo com o vizinho Flávio Dino (PCdoB), governador do Maranhão, com o apresentador Luciano Huck.
O Piauí é um dos cinco Estados do Nordeste que já aprovaram uma reforma da previdência estadual, na esteira da emenda proposta pelo governo do presidente Jair Bolsonaro.
Na prática, ao mesmo tempo em que fazem a defesa de Lula e das bandeiras do PT, os governadores nordestinos filiados ao partido tocam uma agenda econômica que guarda paralelo com a do Palácio do Planalto. Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões, por exemplo, estão no radar de todos, sem tabus.
Na comissão que discutiu o texto-base do marco legal do saneamento básico, a atuação do governador da Bahia, Rui Costa (PT), chamou a atenção do Planalto. Costa trabalhou pessoalmente para costurar acordo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para a proposta que libera a iniciativa privada a atuar com mais força no setor.
Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco, Adriano Oliveira, os governadores do Nordeste buscam um “equilíbrio”. “Todos precisam de ações do governo federal, mas sabem que, em 2020 e em 2022, têm eleições pela frente. Precisam se equilibrar tendo ações do governo federal e posições que se conjugam com o desejo do eleitorado, que, em sua maioria, é pró-Lula, pró-esquerda”, disse Oliveira, em referência ao chamado “cinturão vermelho” do Nordeste. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Por Vinícius Valfré
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